Você tem garra?

Assistindo aos jogos olímpicos, percebo como a maioria dos atletas tem um ânimo fora de série para praticar seu esporte e, se possível, ganhar uma medalha. São histórias e mais histórias sobre sacrifício, disciplina e superação em cada vida retratada. Por qual motivo eles se dedicam tanto? Há algum traço comum que possa ser identificado? Se eu tivesse que escolher apenas um, este seria a garra.

Angela Duckworth, professora de psicologia da Universidade da Pensilvânia, liderou estudos para verificar qual característica marcava singularmente as pessoas que conseguiam executar os mais diferentes trabalhos, enfrentar diversos desafios e ter sucesso. Ao final, concluiu não ser a resposta o Q.I (coeficiente de inteligência), nem a inteligência social, nem a saúde física, nem a aparência, mas sim a “garra”.  Angela relata essas pesquisas e suas conclusões no livro “Garra – O Poder da Paixão e da Perseverança”, o qual recomendo.

Garra, segundo esse conceito, é a mistura de determinação, paixão e perseverança em busca de objetivos de longo prazo. Trata-se de ter resistência. É manter o foco em seu objetivo futuro dia após dia, não só por uma semana ou por um mês, mas por anos e trabalhar bastante para torná-lo real. É viver a vida como uma maratona e não uma corrida de 100 metros.

Num dos estudos com alunos de ensino médio em Chicago, a psicóloga identificou aqueles com maior garra e concluiu terem esses mais probabilidade em se formar, mesmo advindos de grupos diferentes em termos de renda familiar, média de notas ou segurança sentida quando estavam na escola.

A ciência ainda sabe pouco sobre como gerar garra nas pessoas. Mas, já reconhece que talento não traz mais garra, pois a pesquisa verificou alunos talentosos não levando adiante seus compromissos. O estudo, de fato, mostrou que a garra está inversamente relacionada com o grau de talento! A maior correlação foi com a mentalidade de crescimento, definida por Carol Dweck em seu livro “Mindset” (procure o artigo sobre esse assunto aqui no blog), segundo a qual a capacidade de aprender não é rígida, mas pode mudar com o esforço. As pessoas perseverantes após falharem acreditam não ser a derrota uma situação permanente, mas uma forma de aprendizado.

O talento pode ser um indício de que se vai chegar mais longe. Mas, sem dedicação, comprometimento, resiliência e obstinação, o talento não acarretará maior destaque do que a garra em fazer seu objetivo dar certo. Segundo conclusões de Angela Duckworth, o esforço vale duas vezes mais do que o talento, pois: habilidade em determinada área = talento x esforço  e  sucesso = habilidade x esforço. Se quizermos nos destacar em algo, precisamos concentrar nosso foco nessa atividade e aplicar esforço.

Para desenvolver a garra é necessário primeiramente cultivá-la de dentro para fora, tomando por base quatro ingredientes principais:

  1. Interesse

Sempre ouvimos o conselho “faça o que você ama e não precisará trabalhar mais um dia”. Mas, como encontrar o que se ama? Algumas pessoas podem ter isso claro desde muito jovens, no entanto a grande maioria não sabe qual é sua paixão. Muitos indivíduos nunca descobrem ou não conseguem atrelar sua atividade predileta ao seu trabalho: existem limites reais a serem considerados. Em uma pesquisa realizada no âmbito de 141 países, a Gallup apurou que somente 13% dos pesquisados se reconhecem “empenhados” em seu trabalho.

Também está evidenciado ser a paixão pelo que se faz uma das fortes características para o sucesso em qualquer empreendimento. E aqui vale a dica dada por Angela Duckworth: experimentar.

O processo de descoberta da paixão não é introspectivo; ele é experimental. Às vezes, pensamos amar fazer algo na teoria, mas a realidade pode não confirmar. Por outro lado, podemos extrair prazer em atividades nunca imaginadas antes de provar. Permitir-se testar novas possibilidades ajuda na descoberta da paixão. Como exemplo, Julia Child, a chef americana formada em Paris já numa idade madura, retratada no filme Julie & Julia, declarou ter demorado 40 anos para descobrir sua verdadeira paixão: cozinhar; isso não aconteceu de uma hora para outra, mas através de suas várias experiências no mundo da culinária. Sem experimentação, não se pode determinar quais interesses vão permanecer.

A paixão pelo trabalho tem um pouco de descoberta seguida de muito desenvolvimento e de uma vida inteira de aprofundamento.

2. Prática

Após identificado o interesse é preciso haver um esforço deliberado visando fomentar a melhoria; para fazer as coisas com maestria é preciso ter prática.

A influência da prática na garra pode ser traduzida pelo desejo de desenvolvimento contínuo. O que deve ser considerado aqui é a prática disciplinada. Músicos virtuosos e atletas de alto desempenho são exemplos disso. Treinam constantemente até identificar e erradicar seus pontos frágeis. Mesmo a mais complicada e criativa das habilidades humanas pode ser dividida em técnicas que devem ser executadas incansavelmente visando a excelência.

Para aumentar o nível do esforço, devemos nos comprometer em realizar pequenas atividades diárias ligadas com o grande objetivo. Para permanecer em um regime que exige bastante disciplina, devemos manter uma imagem clara do que mais se deseja alcançar.

3. Propósito

O interesse é uma fonte de paixão. O propósito – a intenção de contribuir com o bem-estar de outras pessoas – é outra. As paixões maduras das pessoas que têm garra dependem de ambas.

A maioria das pessoas primeiro se sente atraída por coisas agradáveis e só mais tarde descobre que esse interesse pessoal pode beneficiar outras pessoas. Ou seja, a sequência mais comum é começar com um interesse próprio, adotar uma prática individual disciplinada e, por fim, integrar esse trabalho com um propósito centrado em outras pessoas.

A noção de propósito, portanto, se refere ao que é importante para outras pessoas além de nós mesmos.

Para ilustrar, vamos relembrar a parábola dos três pedreiros:

Perguntaram a três pedreiros: “O que vocês estão fazendo?”

O primeiro responde: “Estou assentando tijolos.”

O segundo responde: “Estou construindo uma igreja.”

O terceiro responde: “Estou construindo a casa de Deus.”

O primeiro pedreiro tem um emprego. O segundo, uma carreira. O terceiro, uma vocação.

Segundo demostrado por Angela Duckworth quem acredita que seu trabalho torna o mundo um lugar melhor, possui mais garra. Se encontrar um interesse já pode ser difícil, imagine um propósito! Não há nada de errado com quem faz seu trabalho com honestidade visando unicamente ganhar a vida. Contudo, aqueles que conseguirem convergir seus interesses com seu propósito e sua vocação serão mais realizados e felizes.

Segundo o psicólogo da Universidade de Stanford, Bill Damon, o propósito é a resposta à pergunta “por que?”: Por que você está fazendo o que está fazendo? Entrar em contato com pessoas com propósito e ter consciência de como fazer diferença no mundo pode auxiliar essa descoberta.

4. Esperança

A garra também depende de um tipo específico de esperança. Esta repousa sobre a expectativa de que o esforço pode melhorar o futuro. Trata-se de estar decidido a intencionalmente fazer de amanhã um dia melhor do que hoje.

O importante é agir como no antigo ditado japonês: Cair sete vezes, levantar oito. A esperança das pessoas com garra as induzem a levantarem-se sempre após uma queda: cada nova tentativa será diferente, pois agregará a experiência da vez anterior. Isso mostra, ainda, a importância de ter uma vida com percalços e do fracasso para evoluirmos.

Além desses 4 fatores, que auxiliam aumentar a garra de dentro para fora, pode-se também incrementá-la de fora para dentro, considerando a ajuda de outras pessoas – pais, orientadores, professores, chefes, mentores, amigos. Nesse contexto, escuta ativa para ouvir feedbacks e pensamento crítico para selecionar os que realmente vão agregar valor, são fundamentais.

Uma questão relevante é se uma pessoa pode ter garra demais. Aqui, como tudo na vida, acredito que a ponderação deve prevalecer. Devemos admitir que garra não é a única qualidade desejada em um ser humano. Como dizia Lao Tse, existe sempre o dourado caminho do meio.

Para finalizar, é importante reconhecer que, embora sucesso e felicidade estejam entrelaçados, não são a mesma coisa. Em seus estudos, Angela Duckworth concluiu que quanto mais garra tiver uma pessoa, mais provável será ela desfrutar de uma vida emocional saudável. Nessa questão, retornamos ao ponto inicial: os atletas olímpicos. Simone Biles a premiadíssima ginasta americana desistiu de competir nos jogos alegando necessidade de cuidar da sua saúde mental. Ela é, sem dúvida, uma pessoa com garra, mas mostra a necessidade da convivência harmônica do físico com a mente. Somos seres complexos, com um conjunto enorme de características e, quando algo se desequilibra, afeta o restante.  Daí a importância do autoconhecimento para identificar sintomas precoces de problemas visando atuarmos nas causas de forma a obter o equilíbrio das várias facetas da vida.

Quer ajuda para incrementar sua garra? Entre em contato:

www.humanagente.com.br

whatsapp: (11) 99851-1275

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