Qual seu propósito de vida?
Uma das descobertas mais difíceis ao ser humano é definir qual o seu propósito de vida. Há algumas pessoas que podem ter isso claro desde muito cedo, mas acredito não serem a maioria.
Definir nosso propósito é importante para sermos senhores de nossa própria existência, podermos guiar nossos passos direcionados a um objetivo desejado, não vivermos ao acaso do destino e termos a oportunidade de realização na vida.
Dan Buettner, explorador, educador, autor e produtor, é o orador de um dos TEDs mais vistos da história: “Como viver para ter mais de 100 anos”, no qual relata o estudo das “Zonas Azuis” do mundo, comunidades cujos idosos vivem com disposição e vigor até idades muito avançadas. Segundo o estudo, as características comuns a essas pessoas são: privilegiar a comunidade, fazer atividade física nas ações corriqueiras de seu cotidiano, possuir uma dieta equilibrada, ter espiritualidade e possuir um propósito de vida.
Existem vários autores com teorias a respeito de propósito, mas hoje gostaria de explorar a visão oriental traduzida no “ikigai”, palavra japonesa que descreve os prazeres e sentidos da vida. A palavra consiste, literalmente, de “iki” (viver) e “gai” (razão). “Ikigai”, às vezes, é expresso como “o motivo para se levantar de manhã”. É o que dá uma motivação contínua para viver a vida.
Ken Mogi é um neurocientista e escritor japonês, que já publicou mais de cem livros, dentre eles “Ikigai – Os Cinco Passos para Encontrar seu Propósito de Vida e Ser Mais Feliz”, o qual recomendo àqueles que queiram se aprofundar no assunto.
Segundo o autor, um bom ponto de partida para encontrar seu “ikigai” como forma de obter uma vida mais feliz é responder às perguntas: “Quais são meus valores mais sentimentais?” e “Quais são as pequenas coisas que me dão prazer?”
Os cinco passos citados no título do livro para se ter “ikigai” são:
Passo 1: Começar pequeno;
Passo 2: Libertar-se;
Passo 3: Harmonia e sustentabilidade;
Passo 4: A alegria das pequenas coisas;
Passo 5: Estar no aqui e agora.
Eles não são mutuamente excludentes e nem precisam ser concomitantes, além de não haver uma ordem particular de hierarquia.
O primeiro pilar descreve o começar pequeno e pressupõe haver comprometimento. Neste enfoque, é melhor fazer pouco bem feito, do que muito de forma mediana. É uma abordagem pela qual se toma um cuidado extraordinário com detalhes, para fazer as coisas com maior qualidade gerando o prazer tanto pelo processo como pelo resultado. É pessoal por natureza e é uma manifestação de orgulho pelo que se faz. Na medida em que se atinge a excelência, aumenta-se o escopo e recomeça-se a aprimorar.
O segundo pilar, libertar-se, trata de abolir a subserviência às aparências e ao prestígio. Segundo Mogi, seria agir como a criança, que despreocupada não carrega o peso de uma definição social do eu, ou seja, uma criança ainda não está presa a um status social. Quem atingir o estado psicológico de “fluxo”, como descrito pelo psicólogo americano nascido húngaro Mihaly Csikszentmihalyi, obterá o máximo do “ikigai”. De acordo com o psicólogo, fluxo é um estado no qual as pessoas estão tão envolvidas em uma atividade que mais nada parece importar. Quando em fluxo, você não trabalha mais para ganhar dinheiro; pelo menos, essa não é a sua primeira prioridade. Você trabalha porque a atividade lhe dá um prazer imenso. Naturalmente, como entidade biológica, você se preocupa com seu bem-estar e com a satisfação de suas necessidades, mas a realização ocorre pela atividade em si. É mais fácil entender o estado de fluxo em alguns artistas, que se atiram na execução de suas obras sem se importar, inclusive, com a remuneração pelo produto gerado, sabendo-se que esse estado não ocorre apenas com pessoas ligadas às artes.
A sustentabilidade é uma virtude na vida e requer engenhosidade e habilidade. Um homem é como uma floresta, individual, mas conectado e dependente dos outros para crescer. Tudo deve estar em harmonia e isso se reflete no terceiro pilar do “ikigai”: harmonia e sustentabilidade.
O quarto pilar fala de apreciar as pequenas coisas da vida. Será que estamos aproveitando tudo que os nossos olhos vêm e os nossos sentidos sentem? O primeiro passo de uma criança, o cheiro da chuva molhando as árvores, a sensação de calor na pele fornecida pelo sol da manhã. Quando perdemos a habilidade de perceber as maravilhas naturais e cotidianas, estamos deixando de ter felicidade em coisas pontuais, o que nos leva a ter dificuldade em atingi-la de forma mais abrangente.
Num mundo de ocorrências em velocidade exponencial, nos tornamos cada vez mais ansiosos pensando no futuro que virá. Com isso, perdemos a simplicidade do estar aqui e agora, que é o único momento do qual podemos realmente usufruir. O passado deve servir de lição, mas não atormentar nosso presente. O amanhã deve ser preparado, mas com ações realizadas hoje. Permitir-se estar e desfrutar o aqui e agora é o quinto pilar do “ikigai”. Portanto, se gostar, cante uma música, mesmo quando ninguém estiver ouvindo; faça um desenho, mesmo que ninguém esteja olhando; escreva um conto ou um artigo mesmo que ninguém vá ler. Se gostar realmente de uma atividade, sentirá alegria e satisfação interior, que são mais do que suficientes para que você siga em frente feliz com a vida. Se conseguir fazer isso, você se tornou um mestre do estar aqui e agora e aproveitar cada minuto vivido de maneira aprazível.
O livro nos relata, ainda, que a tradição da cerimônia do chá japonesa é um bom exemplo de “ikigai” porque seus cinco pilares parecem estar incorporados nela. Em uma cerimônia do chá, o mestre prepara cuidadosamente os ornamentos no aposento, prestando a maior atenção a detalhes como o tipo de flor a ser colocada na decoração da parede (começar pequeno). O espírito de humildade é a marca registrada do mestre do chá e dos convidados, mesmo se eles tiverem longos anos de experiência na cerimônia (libertar-se). Muitos recipientes usados em uma cerimônia do chá têm décadas, às vezes séculos de idade, e são escolhidos para se harmonizarem uns com os outros e deixarem uma impressão inesquecível (harmonia e sustentabilidade). Apesar dos preparativos meticulosos, o objetivo principal de uma cerimônia do chá é estar relaxado, tirar prazer dos detalhes sensoriais no salão de chá (apreciar a alegria das pequenas coisas) e estar em um estado de “mindfulness” no qual se absorve o cosmos interior do salão de chá na mente (estar no aqui e agora).
Se você encontrar seu “ikigai” no trabalho será algo esplêndido, pois unirá o útil ao agradável, mas ele não precisa estar diretamente associado à vida profissional de uma pessoa. Segundo Ken Mogi, a maioria dos funcionários das empresas do Japão não costumam se sentir realizados pelos trabalhos que desempenham e, como consequência disso, o país é composto por muitas pessoas cheias de hobbies ou dedicadas a atividades normalmente não relacionadas com seus empregos. E isso é suficiente para estabelecer um equilíbrio necessário ao ser humano: realizar-se e sustentar a si e a sua família.
Não existe uma fórmula absoluta para a felicidade humana – cada condição única na vida pode servir como base para a felicidade de sua forma particular. Você pode ser feliz casado e com filhos ou casado e sem filhos. Você pode ser feliz estando solteiro. Você pode ser feliz com ou sem diploma da faculdade. Você pode ser feliz sendo magro, assim como pode ser feliz acima do peso. Mas, para poder ser feliz, é preciso se aceitar. Isto não quer dizer, que não é possível mudar, mas quer dizer que não devemos colocar a culpa de nossa infelicidade em alguma situação ou característica específica, pois existem pessoas felizes de todos os tipos. Conhecer-se e se aceitar são premissas para uma vida feliz.
Não há caminho ideal para o “ikigai”. Cada um de nós tem que procurar o seu, mas, não se esqueça de usar o bom humor para tornar esse processo leve e prazeroso como forma de já começar a sentir sua razão de viver, antes mesmo de conscientemente encontrá-la.
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