Você consegue enxergar o não óbvio?

Segundo o que nos conta Rohit Bhargava, curador de tendências, especialista em marketing, storyteller, professor na Universidade de Georgetown e autor de seis livros best-sellers do Wall Street Journal, é muito difícil enxergar o que ninguém mais vê. Num mundo de mudanças exponenciais as empresas, os profissionais e os empreendedores que perceberem as tendências e construírem novas ideias para lidar com elas irão alçar voos que outros não conseguem.

Não se trata necessariamente de um dom, pois enxergar o não óbvio pode ser uma questão de aprendizado e treino. Vamos avaliar alguns conselhos dados por Bhargava em seu livro “Não Óbvio”, o qual recomendo aos interessados em conhecer tendências e desejosos em desenvolver a habilidade de descobrir e explorar o que não é evidente.

Nossa mente capta muito mais informações do que processamos normalmente. Se não descartarmos os pensamentos que vêm de forma acidental, podemos atiçar nossa criatividade e achar soluções muito proveitosas. Bhargava nos relata a história ocorrida no meio da década de 1980, quando a ideia de uma das marcas mais conhecidas do mundo ganhou vida em uma caminhada de um hotel a um centro de convenções em Milão. Howard Schultz estava em uma exposição comercial representando a Starbucks que, na época, fornecia equipamento doméstico de alta qualidade para o preparo de café. A caminho da convenção, Schultz ficou espantado com a quantidade de lojas de expresso italiano. Esses estabelecimentos ofereciam às pessoas um terceiro lugar para reuniões – além da casa e do trabalho. Quando voltou a Seattle, ele convenceu os proprietários da Starbucks a criar uma cafeteria varejista semelhante na cidade. Anos mais tarde, comprou a marca e a tornou mundial. Tudo isso começou com um momento aleatório que Schultz poderia ter deixado passar. É fácil perder ideias acidentais porque muitas vezes elas parecem distrações irrelevantes e, em algumas ocasiões, podem ser. O problema é que elas não vêm rotuladas de um jeito ou de outro. A única maneira de você se abrir ao acaso é recebendo a distração.

Outro ponto a considerar é a necessidade de explorarmos o desconhecido, o que também pode ser rejeitado por nossa mente, pois, como explica a Neurociência, somos projetados para seguir hábitos em segurança.  Como exemplo, verificamos que, apesar de um universo de opções de mídia em constante expansão, temos a tendência de assistir aos mesmos programas, visitar os mesmos sites e ler os mesmos jornais e revistas, porque encontramos conforto no que é rotineiro. Mas, para desenvolvermos a visão não óbvia, temos que nos deslocar intencionalmente para destinos incomuns, sejam eles ali na esquina ou do outro lado do mundo. Um desvio para o desconhecido significa fazer um caminho diferente até o trabalho ou andar até um restaurante próximo, em vez de ir de carro. Significa olhar para coisas com mais atenção do que fazemos corriqueiramente. O desconhecido abre a mente e nos ajuda a ser mais inovadores. Desviar nos ajuda a encarar essas experiências com novos olhos.

Além disso, temos de cultivar o pensamento crítico para não aceitarmos as ideias pré-concebidas. O mundo conspira de muitas maneiras para nos incentivar a permanecer no conforto de nossas crenças. Algoritmos das redes sociais nos apresentam histórias com as quais concordamos. Cookies de sites mostram o que gostaríamos de ver. Políticos polarizadores defendem que a verdade requer a necessidade de alguém estar errado para podermos estar certos e que quem discorda de nós deve ser tratado como inimigo. Vivemos verdadeiramente dentro de uma bolha, na qual todos têm as mesmas visões e opiniões. Nesse contexto, é preciso ter muita coragem para mudar de ideia, para ser persuasível. Quando nos colocamos no lugar de outra pessoa e imaginamos suas histórias passadas e razões para seus comportamentos, podemos ver o mundo de novos ângulos.

Leonardo da Vinci é um grande exemplo do pensador não óbvio, pois idealizou coisas totalmente fora dos padrões para sua época, ainda utilizáveis até hoje: o paraquedas, o helicóptero, a bicicleta e até o … guardanapo! Ele inventou esse último utensílio em 1491, quando a ideia lhe surgiu para que os convidados dos banquetes do Duque de Milão, Ludovico Sforza, limpassem suas mãos, ao invés de se valerem de coelhos vivos atados com fitas às cadeiras, conforme relata Calor Fisas, autor de diversos trabalhos de pesquisa histórica, em seu livro “¡Que aproveche!”. A boa notícia é que não precisamos ser gênios como Da Vinci para desenvolvermos nossa visão não óbvia.

A criatividade é uma habilidade muito requisitada atualmente e existe no ser humano desde seu nascimento, afinal quem não considera as crianças em geral criativas? O problema é que com o passar dos anos e a chegada da vida adulta abafamos essa característica enxergando apenas o óbvio das coisas. Desenvolver-se em determinada competência exige esforço e, neste caso, foco em alguns minsets específicos.

Em primeiro lugar, é preciso ser observador. Isto implica ver o que os outros deixam passar, normalmente detalhes da grande paisagem que podem fazer a diferença. Trata-se de verificar como as particularidades influenciam as pessoas, os processos e as empresas. Para aguçar essa capacidade o autor nos recomenda algumas ações, como:

  • Explicar o mundo às crianças. Fazendo isso, vamos ter nós mesmos que achar respostas significativas para perguntas corriqueiras e sair do modo “porque sim”.
  • Assistir a processos em ação. Muitas interações em nossas vidas são controladas por um “sistema misterioso”. Quando nos damos conta e analisamos seus processos, ao invés de ignorá-los, podemos entendê-los e, consequentemente, ver o que os outros não veem.
  • Guardar o celular. Vivemos um momento em que é muito difícil uma conexão off-line, simplesmente porque não permitimos que ela aconteça. O mundo é muito maior do que a tela de seu celular e, geralmente, a vida é o que acontece aqui fora. Por isso, quando estiver fazendo coisas como andar de metrô ou se dirigir a pé a algum destino, experimente olhar ao seu redor, procurando coisas interessantes, observando a linguagem corporal das pessoas ou até puxando conversa com um desconhecido. Esse tipo de experiência pode fornecer novos “insights”, fomentando as ideias criativas.

O segundo passo para capturar o não óbvio é ser curioso. Isso implica em sempre perguntar “por quê?”. Normalmente, consideramos ser mais fácil seguir em frente do que parar e explorar alguma coisa nova com mais profundidade. Isso pode nos tonar mais focados, mas, por outro lado, nos deixa menos criativos. Quanto mais soubermos sobre um assunto, mais difícil se torna pensar fora da especialização e ampliar nossa visão. Bahgava cita três maneiras de tornar-se mais curioso:

  • Consumir “mídia inteligente”. Estamos cercados de conteúdos vazios (de blogs de fofoca até reality shows) que podem ser divertidos, mas, que incentivam a passividade. Optar por conteúdos que alimentem nossa curiosidade é um passo para fomentá-la e fazer-nos pensar. Quando foi a última vez que você assistiu um TED, leu um livro ou foi a uma palestra sobre um assunto que tenha realmente agregado valor ao seu conhecimento? Toda informação obtida fica “disponível” em nossa mente para ser incorporada numa ideia futura.
  • Ler revistas desconhecidas. Ler revistas ou artigos nos quais não seja o público-alvo faz você se inserir ou pelo menos ter uma noção de um mundo novo do qual nem fazia ideia. Isso nos leva para fora de nossa “bolha”. O conhecimento adquirido pode servir de alavanca a ideias surpreendentes. Murilo Gun, um dos especialistas brasileiros em criatividade, é um defensor dessa prática.
  • Fazer perguntas a todo momento. Entender um pouco de tudo, ter conhecimentos diversos fomenta o aparecimento de novas ideias. O conhecimento especialista é, e continuará sendo, um requisito necessário ao mercado de trabalho, mas o conhecimento generalista será o grande diferencial ao mostrar outras realidades, aumentando nossa visão de mundo e, consequentemente, expandindo nossa criatividade.

A terceira característica para sermos pessoas não óbvias é ser inconstante.  Trata-se de aprender a seguir em frente ou, como definido por Bagahva, deixar decantar as informações. Nem toda ideia deve ser explorada no exato momento em que nasce. Com frequência, o significado de ideias e as conexões entre elas aparecem somente depois que são deixadas de lado. Analisá-las posteriormente pode dar mais perspectivas que permitem ver ligações e soluções com maior profundidade. Você já viveu a experiência de ter uma ideia durante o sono ou durante o banho, a partir de estímulos que imaginou não terem servido nos dias anteriores? Para fomentar essa habilidade, considerar três maneiras de tornar-se mais inconstante:

  • Guardar ideias off-line. Isso permite dar o mesmo peso a cada ideia, independentemente da data em que foi guardada.
  • Estabelecer um prazo para você. Para evitar a tentação de analisar excessivamente um pensamento, tente usar uma data limite para se dedicar a ele. Isso pode ajudar a esvaziar a cabeça e avaliar com maior rapidez se vale a pena guardar determinada ideia para ser analisada com maior profundidade mais tarde.
  • Fazer anotações mais curtas. Uma  maneira de não perder o pensamento e focá-lo em seu conceito principal é usar palavras-chave para identificar o contexto da ideia e o porquê ela é interessante, utilizando essas chaves para recuperá-las mais tarde.

O quarto passo indicado para a não obviedade é ser pensativo, ou seja, dedicar um tempo para a reflexão. O mundo atual parece exigir respostas imediatas a cada estímulo. Mas, muitas vezes, é preciso parar e considerar os pensamentos divergentes a respeito do assunto. Faz-se necessário buscar várias fontes para a mesma história visando construir uma perspectiva mais ampla. Ser um analista mais aprofundado das situações observadas está baseado nas seguintes atitudes:

  • Esperar um pouco. Dedicar um tempo para avaliar uma opinião é melhor do que dar a primeira resposta que vem à cabeça. Pode, inclusive, lapidar a forma de expressão, evitando gafes e ofensas.
  • Escrever e depois reescrever. O processo de editar as próprias ideias pode ser trabalhoso, mas propicia a lapidação do pensamento. Sempre fui muito rápida em dar retornos quando questionada, e posso testemunhar um acréscimo na qualidade quando me permiti redigir minhas respostas a e-mails, por exemplo, e deixá-las no rascunho por um tempinho (nem que fosse 1 hora) para depois corrigi-las e enviá-las.
  • Acolher as pausas. Significa não ter medo do silêncio. Quando se usa as pausas de maneira eficiente, se enfatiza os pontos que realmente queremos que as pessoas escutem e damos um tempo a nós mesmos para articularmos o pensamento.

O quinto mindset dos pensadores não óbvios é ser elegante, ou seja, criar ideias simples e bonitas. Ter em mente que simplicidade é fundamental para soar elegante em como nos expressamos. Quando eliminamos palavras desnecessárias destilamos as ideias e as tornamos mais fáceis de entender. Para pensar com mais elegância, é necessário:

  • Ser breve. Usar o mínimo de palavras possível para explicar a ideia a um leigo de forma a fazer sentido para ele.
  • Usar linguagem poética. Poetas usam metáforas, imagens, aliterações e outras ferramentas para expressar emoção e significado em sua escrita. Tirar seu texto do lugar comum ajuda a burilar sua ideia.
  • Fragmentar. Desmembrar um argumento ou uma situação complexa em seus componentes mais relevantes ajuda-nos a entendê-los ou explicá-los a outras pessoas.

O futuro será benéfico às pessoas que estiverem preparadas para enxergar o que os outros não veem, sendo capazes de identificar e explorar tendências. Para isso, temos que sair do modo automático nas experiências do dia a dia, possibilitando-nos aproveitar tudo que as abordagens não convencionais possam nos trazer, ou seja, permitindo-nos a reparar no não óbvio.

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