É possível ter felicidade no trabalho?
O trabalho representa grande parte de nossa vida. Desde a fase de escolarização, que é a preparação para o emprego, até a dedicação às atividades profissionais. Como então podemos desconsiderar a satisfação laboral como forma de atingirmos um dos objetivos mais cobiçados de todo o ser humano, que é ser feliz?
Tentando responder à pergunta título deste artigo, lancei uma pesquisa no meu linkedin, questionando “Existe felicidade no trabalho?”. De uma amostra de 40 respondentes, tivemos:
- 67% responderam “Claro”
- 5% responderam “Nunca vi”
- 28% responderam “Às vezes”.
Devemos, porém, reconhecer que felicidade é um conceito subjetivo. Muitas filosofias e religiões estudaram e definiram o que é ser feliz, fornecendo desde o significado mais simples da realização dos desejos até a capacidade de reunir um conjunto de virtudes que resistem a vícios, como definido por Aristóteles. A psicologia positiva – que dá maior ênfase ao estudo da sanidade mental e não das patologias – a relaciona com emoções e atividades construtivas nas quais o homem seria o responsável pela própria felicidade através do condicionamento psicológico a partir de atitudes como ser positivo, ser grato e fazer o bem.
Jennifer Moss é oradora internacional e expert na implementação da felicidade no local de trabalho. Suas palestras e seus estudos ampliam o debate das obrigações da liderança empresarial em relação à saúde de suas equipes. Ela é cofundadora do Plasticity Labs, organização dedicada ao bem-estar no ambiente de trabalho, e membro do United Nations Global Happiness Council. Seu livro “Felicidade no Trabalho: Estratégias para otimizar sua performance” foi vencedor do Independent Press Awards 2018, na categoria Motivação Empresarial sendo baseado em anos de pesquisa. Para Moss a felicidade é a consequência de se trabalhar na construção de atributos como esperança, eficácia, resiliência, otimismo, gratidão e empatia. Para muitos, felicidade significa a ausência de emoções negativas, mas Moss já escrevia em seu artigo para a Harvard Business Review em 2015 (“Happiness isn´t the absence of negative emoticons”) contra a crença que ser feliz é apenas sentir alegria, a cada minuto de cada dia, o tempo todo. Ela defende que ser feliz é ver as coisas com positividade, independente se for uma derrota, algo triste, podemos considerar como uma experiência que agrega valor e nos ensina algo. Não somos felizes quando perseguimos a felicidade. Somos mais felizes quando não estamos pensando nela; quando aproveitamos o momento presente porque estamos imersos em um projeto significativo, trabalhando para um objetivo maior ou ajudando alguém.
Segundo Sócrates, para alcançar a felicidade todos deveriam considerar os seguintes princípios: (1) esforçar-se para ser honesto; (2) ser a sua melhor versão possível; (3) demonstrar controle emocional. Para o filósofo grego, a felicidade é uma escolha e não algo transmitido pelos deuses. J. Moss nos dá um exemplo disso aplicado na prática:
Trata-se da história de Helen Keller, a primeira pessoa surdocega a obter um diploma em artes. Ela se destacou por ser alguém implacável na busca por aprendizado, além de ser cheia de otimismo, esperança e resiliência, apesar de todo sofrimento que sua condição lhe proporciona. Helen aprendeu a falar lendo os lábios dos outros com as mãos e passou a ser oradora pública, viajando por cidades americanas compartilhando sua mensagem sobre a alegria que a vida lhe deu. Ela estava grata pelas faculdades e habilidades que possuía e afirmou que seus prazeres mais produtivos eram a curiosidade e a imaginação. Falava ainda da alegria de servir e da felicidade que advinha em fazer coisas para os outros.
Para atingirmos a satisfação por nossas atividades é preciso consistência, coragem e perseverança. Aqui seguem exemplos de pessoas que acreditaram ser a felicidade uma escolha, uma decisão que tomamos para além das nossas limitações biológicas e sociais:
- J.K. Rowling, a autora dos livros de Harry Potter, teve seu manuscrito rejeitado doze vezes e foi aconselhada a abandonar a profissão antes de convencer uma editora a aceitá-lo. Ela foi a primeira mulher a tornar-se uma autora bilionária.
- Foi dito aos Beatles que eles “não tinham futuro no mundo do Show business”. Eles são a banda que mais vendeu na história com cerca de um bilhão de cópias em todo o mundo.
- Michel Jordan foi cortado da equipe de basquete de sua escola. Até hoje, a Associação Nacional de Basquetebol americana afirma que ele é o “maior jogador de todos os tempos”.
Retornando ao âmbito do trabalho, Marcela Centofanti em artigo publicado pela revista Você S/A de abril/2022, relata que muitas empresas ainda possuem a crença de que a felicidade é a recompensa pelo resultado: trabalhe duro e você terá sucesso. Na última década, no entanto, uma série de pesquisas têm mostrado que a ordem da equação é inversa. Se priorizarmos nossa saúde e bem-estar, teremos consequentemente um alto desempenho profissional. De acordo com um estudo da Gallup, empresas com funcionários felizes têm 50% menos acidentes laborais. Já uma pesquisa da Harvard Business Review revelou que colaboradores satisfeitos são 31% mais produtivos, 85% mais eficientes e 300% mais inovadores. A felicidade no trabalho está se tornando tão relevante que algumas empresas têm criado uma função especificamente dedicada a isso. A missão de um diretor de felicidade, ou chief happiness officer (CHO) é garantir que os funcionários sejam felizes. O conceito surgiu na Dinamarca em 2003, quando a empresa Woohoo Partnership criou uma metodologia voltada para promover mudanças positivas e duradouras no ambiente corporativo.
Segundo J. Moss, no livro já citado, o tédio é o grande assassino do comprometimento no local de trabalho, sendo a repetição de tarefas com pouco senso de realização a principal culpada. Nosso cérebro não reage favoravelmente à repetição quando pouco ou nenhum ganho é obtido. A pesquisa “Tédio e Felicidade no trabalho”, da Universidade de Kent em 2013, pediu a 2.113 graduados entre 21 e 45 anos de idade que fornecessem uma “classificação de tédio”, de no máximo dez, para suas novas funções. O resultado mostrou que a profissão docente tinha os níveis mais baixos de enfado entre dezenas de outras profissões. Estas respostas de múltipla escolha dizem muito sobre a forma como as pessoas encontram alegria no trabalho:
- 81% disseram que “é o desafio do cargo”
- 83% disseram que “não há dois dias iguais”
- 86% disseram que “gostam da interação com as pessoas”
- 64% também observaram “a oportunidade de usar a criatividade”.
Já os cargos administrativos, de TI, de vendas, de marketing e de fábricas estavam no topo da lista de empregos que apresentavam os mais altos níveis de tédio, pelas seguintes razões:
- 61% disseram que “falta desafio em seus empregos”
- 60% disseram que “não usavam suas habilidades ou seus conhecimentos”
- 50% disseram que “faziam as mesmas coisas todos os dias”.
Este estudo revelou, ainda, que os recém-formados e a força de trabalho millennial procuram um local de trabalho com desafio, novidade e comunidade em vez de aborrecimento e apropriação indevida de habilidades. O tédio é extremamente prejudicial à felicidade e ao alto desempenho no trabalho. Encontrar projetos desafiadores e significativos é obrigatório para manter qualquer pessoa engajada e esse é um desafio para as lideranças.
Mas, se é assim, como combater o tédio em muitas funções cuja repetição é um aspecto inevitável do trabalho? No estudo “How to Motivate Assembly Line Workers” da Jonkoping International Business School (Jusufi and Saitovic, 2007), quando questionados dos motivos de gostarem de seus trabalhos, os funcionários da manufatura identificados como os mais engajados em suas funções responderam:
- “Caso contrário, o cliente não obteria produtos limpos, a empresa não teria clientes, e nós não teríamos empregos”.
- “Fornecemos têxteis limpos para hotéis em toda Suécia. Se fizermos o nosso trabalho, o pessoal do hotel pode fazer bem o trabalho deles, o que significa hóspedes felizes”.
Envolver as pessoas nos objetivos mais amplos ajuda a dar sentido aos trabalhos do dia a dia. Uma vez que o tédio não pode ser totalmente excluído de muitos trabalhos, é necessário ver propósito no que fazemos para dar sentido e motivação às nossas atividades. Novamente, cabe à liderança propagar esses objetivos e promover o engajamento de seus funcionários.
Segundo J. Moss, o modelo de felicidade que ressoa com a maioria dos cientistas, pesquisadores e líderes começa com Martin Seligman, psicólogo e ex-presidente da Associação Americana de Psicologia. Seligman é responsável por definir o termo “PERMA”, raiz de muitos projetos de pesquisa da psicologia positiva em todo o mundo. A sigla representa os cinco elementos essenciais para um contentamento duradouro, sendo que já citamos alguns deles anteriormente:
- P – positive emotios ou ter emoções positivas: paz, gratidão, satisfação, prazer, inspiração, esperança, curiosidade e amor se enquadram nesta categoria.
- E – engagement ou engajamento. Quando nos dedicamos em realizar uma tarefa ou projeto que amamos, temos a sensação de que o tempo “voou”, porque estamos muito empenhados. Trata-se da chamada sensação de “fluxo” ou “êxtase”.
- P – positive relationships ou relacionamentos positivos. As pessoas que têm relações significativas e construtivas são mais felizes. Como passamos 70% do tempo que estamos acordados em atividades do trabalho, torna-se ainda mais importante que a liderança facilite relações saudáveis e positivas.
- M – meaning ou propósito. Ter significado é resultado de servir a uma causa maior do que nós mesmos. Quando a liderança ajuda a construir propósito para seus colaboradores, cria-se um sentido mais profundo de realização quando as metas são atingidas.
- A – accomplishments ou realizações. Quando analisamos o esforço, sentimos que estamos no caminho do sucesso, em vez de perseguindo um objetivo distante. Comemorar pequenas conquistas ao invés de nos concentramos somente nas grandes vitórias. O percurso é importante para chegarmos ao final do caminho.
É importante lembrarmos da existência de fatores que ajudam a trazer alegria, mas existem fatores que são detratores desse estado. Um amigo me relatava que sua equipe andava altamente descontente porque sua empresa não reconhecia e implementava a facilidade do trabalho híbrido (parte presencial e parte home office). Esse tipo de elemento causa mais infelicidade quando não existe do que felicidade quando existe, o que não o torna menos importante para gestores desejosos em disponibilizar um ambiente mais harmônico e propenso à felicidade.
Uma outra pesquisa realizada através do meu linkedin, questionava “O que o torna mais feliz no trabalho?”. De uma amostra de 19 respondentes, tivemos:
- Atividades interessantes – 16%
- Equilíbrio com a vida pessoal – 37%
- Oportunidades de carreira – 21%
- Relacionamentos positivos – 26%
Acredito que todos os fatores influenciam a satisfação no trabalho, mas podemos observar que nossas organizações ainda precisam evoluir no quesito de respeito ao balanceamento da vida profissional e pessoal de seus funcionários. Este quesito também se encaixa mais dentre aqueles que são detratores da felicidade no ambiente organizacional.
A conclusão de todos os estudos realizados é que gostar do seu trabalho é fundamental para a felicidade profissional, mas amar sua atividade laboral não significa estar alegre o tempo todo. Qualquer emprego é repleto de tarefas e momentos que não necessariamente trazem prazer — muitos, inclusive, causam desgosto. No entanto, se no fim do dia a pessoa enxerga o valor do seu esforço, sente que valeu a pena para atingir um objetivo maior, então terá injetado o combustível para começar o próximo dia com vontade e engajamento e isso é felicidade no trabalho.
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