Você incentiva seu pensamento criativo?
A sociedade tem mudado mais rapidamente do que sempre aconteceu devido a globalização, a ascensão da internet, das mídias sociais e de aplicativos oriundos dessas revoluções. Muitas empresas nem perceberam as transformações a tempo de se adaptar como a Kodak, a Blockbuster ou a BlackBerry, que foram praticamente extintas por não se adequarem às novidades. Assim como as pessoas jurídicas, também os indivíduos devem se ajustar às modificações sob pena de não atenderem às necessidades do mercado de trabalho e até de não corresponderem às novas formas de relacionamentos sociais.
Segundo pesquisa realizada pelo Linkedin, o mercado está em busca de profissionais que consigam compatibilizar habilidades socioemocionais com competências mais técnicas e que sejam, acima de tudo, criativos para resolver os desafios de um mundo em constante evolução. Trata-se de fomentar a capacidade de descartar ideias confortáveis e de nos acostumarmos à ambiguidade e à contradição, a qualidade de superar posturas mentais e reestruturar as perguntas que formulamos, o talento de abandonar nossas suposições arraigadas e nos abrirmos para novos paradigmas, a propensão a confiar tanto na imaginação quanto na lógica, a possibilidade de gerar e integrar uma grande variedade de ideias, além da vontade de experimentar e saber como lidar com o erro. Trata-se de um leque de talentos diversificados, mas que podem ser resumidos como pensamento criativo, flexível ou elástico.
Todos possuímos a competência de sermos criativos. Acontece que em alguns ela está mais desenvolvida porque eles conseguem manter a espontaneidade infantil. O cientista George Land realizou um teste de criatividade com diferentes faixas etárias, de crianças a partir de 5 anos à adultos maduros, e concluiu que 98% dos pequenos eram extremamente criativos, ao passo que apenas 2% dos adultos demostraram usar sua capacidade criativa. Importante destacar que a criatividade não é um dom e sim uma habilidade inata que pode e deve ser desenvolvida, além de ser uma ótima ferramenta para solução de problemas. Picasso já reconhecia que todas as crianças nascem artistas e que o problema é como continuar a sê-lo quando crescem. Daí vem a máxima, cada vez mais difundida na atualidade, a qual afirma: “o adulto criativo é a criança que sobreviveu”. Dentro de todos nós há redes neurais de uma criança brincalhona e imaginativa e de um adulto racional e autocensurado, cabe a nós ponderarmos os dois lados e utilizá-los de forma mais adequada a cada situação.
É neste contexto que recomendo o livro “Elástico: Como o pensamento flexível pode mudar nossas vidas” de Leonard Mlodinow, doutor em física pela Universidade da Califórnia. Nesta obra o autor explora as origens do pensamento e os divide segundo suas características e utilizações.
Segundo Mlodinow, para resolver seus problemas, os humanos dispõem de três modos para o processamento de informações, cada um mais sofisticado que o outro: roteirizado, analítico e elástico. O primeiro modo se destina a problemas simples e costumeiros. Visando a economia de energia, sempre que possível, nosso cérebro prioriza o uso do processamento roteirizado tanto nas ações como nas respostas às interações sociais. Isto significa que a atuação em “piloto automático” é maior do que se pensa.
Quando nos colocamos acima dos roteiros fixos, a categoria seguinte de pensamento é o analítico. Tendemos a valorizá-lo por ser lógico e objetivo, isento das distorções dos sentimentos humanos e, portanto, propenso à exatidão. Esse tipo de pensamento é utilizado para resolver tipos de problemas conhecidos, por já sabermos como abordá-los e fornecer-lhes uma solução. Trata-se do pensamento linear, executado passo a passo.
No extremo oposto está o pensamento flexível ou elástico, que é útil ao tratarmos de situações com as quais nunca nos deparamos ou quando algo mudou. Este tipo de pensamento é mais complexo que o analítico justamente por agregar um componente emocional para sua realização. Ninguém resolve enigmas ou tem novas ideias com uma abordagem linear passo a passo. Não foi assim que J. K. Rowling criou o mundo de Harry Potter ou que Santos Dumont inventou o avião. É o nosso pensamento flexível e não supervisionado que nos proporciona os inesperados insights e novas maneiras de observar as situações que esses tipos de realização produzem. Sobrevivemos como espécie superior justamente por causa do pensamento flexível, pois o homem das cavernas teve que utilizar muitas soluções criativas para resolver os desafios de um mundo pré-histórico com perigos constantes.
O pensamento flexível é o que nos confere a capacidade de resolver novos problemas e superar barreiras neurais e psicológicas que nos impedem de enxergar para além da ordem existente. Ao contrário do pensamento analítico, o pensamento flexível é um modo não linear de processamento em que múltiplas linhas de pensamento são seguidas em paralelo. Mais motivado pela emoção, o pensamento flexível se presta sob medida para integrar diversas informações, resolver enigmas e encontrar novas abordagens para problemas desafiadores. Possibilita ainda que consideremos ideias incomuns ou até mesmo bizarras, alimentando nossa criatividade (que também requer pensamento analítico, para entender e explorar essas novas ideias).
Ainda segundo Mlodinow, o primeiro passo para melhorar tanto o pensamento analítico quanto o flexível é tornar-se mais consciente ao utilizarmos roteiros automáticos e descartá-los quando eles não forem os mais adequados. Somente alguém autoconsciente pode interromper um roteiro automático que não seja apropriado.
Mas, a ação automática pode liberar nosso pensamento para outras coisas. Quando você não está concentrado em alguma tarefa, por exemplo, quando faz algo sem pensar, como dirigir um carro, é aí que sua mente se encontra mais livre para voar. É por isso que nesses momentos você cria ideias ativamente. Embora alguns possam considerar improdutivo “não fazer nada”, a falta de períodos ociosos é ruim para o bem-estar, pois o tempo ocioso permite que a mente entenda o que vivenciamos ou aprendemos recentemente. Os processos associativos do pensamento flexível não prosperam quando a mente consciente está em estado de concentração. A mente relaxada explora novas ideias enquanto a mente ocupada procura as ideias mais conhecidas, em geral as menos interessantes.
É irônico, mas os avanços tecnológicos que tornam o pensamento flexível cada vez mais essencial também reduzem a probabilidade de nos envolvermos nele. E assim, se quisermos exercitar o pensamento flexível exigido pelo ritmo acelerado do nosso tempo, precisamos lutar contra as constantes intrusões e encontrar ilhas de tempo para desligar.
A teórica política Hannah Arendt definiu os “pensamentos cristalizados” como ideias e princípios profundamente arraigados que desenvolvemos muito tempo atrás e deixamos de questionar. Pessoas que funcionam sob os ditames de pensamentos cristalizados podem ser eficientes processadores de informação, mas aceitam cegamente ideias que se encaixam em seus pensamentos cristalizados e resistem a aceitar as que não se encaixam, mesmo quando comprovadas por todas as evidências. Nosso desafio é desligar esse modo operacional mental e reexaminar nossos “pensamentos cristalizados”. Hannah Arendt chamou o tipo de pensamento em que nos envolvemos para ir além dos pensamentos cristalizados de “pensamento crítico”.
Um dos benefícios colhidos por corporações que buscam incentivar a diversidade dentre seus colaboradores é que a mera presença de pessoas com outros pontos de vista cria um espírito que estimula a libertação de suposições e expectativas profundamente arraigadas, promove análises de novas opções e leva a tomadas de decisão mais abalizadas, construindo uma atmosfera em que as pessoas respondem melhor à mudança.
Segundo Mlodinow, outra forma de desenvolver o pensamento elástico é fomentar as emoções positivas. A emoção negativa cria um foco instantâneo em alguma resposta comportamental específica, estreitando o escopo de possibilidades que os filtros cognitivos deixam passar. Ou seja, o mau humor desestimula o pensamento flexível. Com o bom humor é diferente: as emoções positivas nos estimulam a criar relacionamentos, expandir nossa rede de apoio, explorar o ambiente e nos abrirmos para absorver informações. Essas atividades reduzem o estresse e é a razão por que uma postura feliz contribui para a sobrevivência e a longevidade.
Existem empresas nas quais a liderança pensa ser seu papel gerar ideias para que seus colaboradores executem. Esse tipo de relação é ultrapassado e limita a criatividade e a inovação, preciosidades muito procuradas atualmente, mas mortas pela raiz quando não se incentiva a liberdade de criação. Para que isso aconteça, é necessário formar um ambiente que aceite a falha: para uma ideia dar certo, muitas outras podem dar errado e cada erro não pode ser punido, transformando-se em ofensor da criatividade e da iniciativa. Nosso cérebro está constantemente tendo ideias novas, se colocarmos uma censura no processo, muitas boas ideias serão descartadas ou inibidas no nascedouro.
Dentro de cada um de nós existem dois pensadores distintos, um lógico e um sonhador, competidores de cuja luta emergem nossos pensamentos e ideias. Nosso sucesso acontece com a capacidade de alterar os modos de acordo com a necessidade e esse é o motivo pelo qual ambos devem ser fomentados pois, como disse o escritor Vladimir Nabokov, “A chave do sucesso é ter a imaginação de um cientista e a precisão de um poeta”.
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