Você tem bons hábitos? E maus hábitos? Como reconhecê-los?
Muito se fala sobre hábitos e sua influência no nosso comportamento e nossa mente. Sempre que abordamos o assunto mencionamos como é importante sermos abertos às novidades e às mudanças, pois isto torna nosso cérebro mais resiliente e mais adaptável ao futuro. Então, serão os hábitos uma má influência para termos uma mente sã? A resposta é não. Agir de acordo com hábitos traz alguns benefícios, dentre eles liberar nossa mente consciente para realizar tarefas para as quais foi projetada, como tomar decisões e resolver problemas. O sistema executivo não precisa administrar as rotinas. Quando nos rendemos aos hábitos, a mente fica livre para realizar tarefas mais relevantes.
Wendy Wood é professora de Psicologia e Negócios na Universidade do Sul da Califórnia, foi colunista do The Washington Post e do Los Angeles Times, além de ter artigos publicados no The New York Times, no Chicago Tribune, na revista Time e no ESA Today. Ela é formada pela Universidade de Massachusetts e há 30 anos se dedica em compreender como funciona o mecanismo humano de formação de hábitos. É de sua autoria o livro “Bons Hábitos, Maus Hábitos – Um método científico para promover mudanças positivas”, no qual este artigo foi baseado e o qual recomendo.
O nosso eu consciente se preocupa com as tomadas de decisões. Nosso eu inconsciente forma hábitos que nos permitem repetir o que fizemos no passado. O fato é que não controlamos nossos hábitos da mesma forma que controlamos nossas decisões conscientes. A principal característica do hábito é justamente ser algo que opera de forma alheia a nossa consciência. Em estudo realizado pela autora do livro em referência, constatou-se que 43% das vezes nossas ações são realizadas por hábito, sem pensamento consciente.
Nossa mente é composta por múltiplos mecanismos separados, mas interconectados que guiam nosso comportamento. Alguns desses mecanismos são adequados para lidar com mudanças. São recursos conscientes como nossa capacidade de tomada de decisão e nossa força de vontade. Eles compõem as funções de controle executivo da mente e do cérebro, que são processos cognitivos do pensamento para selecionar e monitorar ações.
Não podemos exigir de nosso cérebro, porém, que gaste energia com assuntos para os quais já tomamos a decisão – pelo menos até o momento de revê-la – toda vez que devemos realizar uma atividade rotineira. Quem vai à academia diariamente, não passa pelo processo de decidir se vai fazer ginástica hoje, todas as demais variáveis constantes (é claro que aqueles que não têm essa atividade como rotina, passam por essa decisão todos os dias, sendo que em muitos decidem não ir). O fato é que existem partes da nossa mente adequadas para estabelecer padrões repetitivos de comportamento: são os nossos hábitos, mais propícios a funcionar de modo automático do que a enfrentar debate que costuma acompanhar nossas tomadas de decisões. O que poderia ser melhor para realizar objetivos importantes e de longo prazo? Ignorar os ruidosos debates e começar a trabalhar. É exatamente para isso que servem os hábitos.
É importante salientar, que um hábito pode ser bom ou ruim. Os mesmos mecanismos de aprendizado são responsáveis tanto pelos bons hábitos, ou seja, aqueles alinhados aos nossos objetivos, quanto aos maus hábitos, os que se opõem a eles. Assim como ir à academia diariamente pode ser um hábito, também fumar constantemente pode sê-lo. Se nosso objetivo é ter uma vida saudável, está claro que um deve ajudar e outro prejudicar essa meta. Desta forma, devemos trabalhar para construir bons hábitos e eliminar os ruins, o que não depende exclusivamente de força de vontade. É neste contexto que a dra. Wood estudou e realizou inúmeras pesquisas empíricas para averiguar como constituir hábitos, ou seja, como tornar certas ações automáticas e constantes e como erradicá-los, uma vez constatado que são perniciosos ao atingimento de nossos alvos.
O primeiro fator a considerar na formação ou eliminação de hábitos é o contexto. Contexto refere-se ao ambiente ao nosso redor – exceto nós mesmos, incluindo o local no qual nos encontramos, as pessoas que nos acompanham, a hora do dia e as ações que acabamos de executar. Existem forças de restrição, que são atritos que impedem a ação e existem forças motivadoras que nos impulsionam a ação. Devemos conhecer esses contextos e forças para nos ajudar a eliminar um hábito indesejável ou implementar um novo hábito. Se você quer ter uma vida mais saudável, reorganize sua cozinha e coloque as frutas numa posição de destaque, faça um caminho mais longo até o escritório para não passar por aquela padaria onde se vende pão de queijo com um copo de chocolate. Para formar novos hábitos, incentive ações motivadoras e reconheça e remova os atritos. Hábitos não gostam de variedade; a variedade os enfraquece e atenua seu poder de direcionar o comportamento. Então, se desejamos implantar um hábito em nós, devemos prezar os ambientes estáveis. É necessária uma organização confiável e contínua para estimular um novo hábito. Como exemplo podemos citar estudos que demostraram maior proporção de continuidade da ação 8 meses depois em pessoas que começaram a tomar remédio no mesmo horário, do que no grupo que o tomava em horários aleatórios.
O segundo elemento a considerar para estabelecermos um hábito nas redes neurais e nos sistemas de memória, é a repetição, ou seja, realizar várias vezes uma nova ação, mesmo se for difícil. Em algum momento, isso se torna uma segunda natureza, e aí podemos relaxar e entrar no piloto automático. A repetição deve ser pensada como uma maneira de induzir uma ação mental rápida. Se quisermos instaurar o hábito de ir à academia constantemente, teremos que repetir essa ação conscientemente até que um dia, ela se torna automática.
O contexto facilitará o caminho e a repetição dará partida no motor, mas se você não receber um mínimo de recompensa pelo esforço inicial neste caminho, não vai adquirir o hábito que começa a operar por conta própria. Esse é o terceiro fator para a construção de um hábito. Para ter um papel na formação de hábitos, as recompensas precisam ser maiores e melhores do que sentiríamos normalmente. Recompensas inesperadas estimulam a formação no cérebro de dopamina, neurotransmissor que facilita a passagem de informações de um neurônio para outro de tal forma que mais sinapses promovem a formação de novos caminhos cerebrais. Devemos nos preocupar com a criação de recompensas, que podem ser intrínsecas ou extrínsecas para a formação dos hábitos. Aprendemos pelo hábito quando a repetição de nossas ações nos dá mais prazer do que nossos sistemas neurais esperam. O controle do atrito, motivação inversa, oferece uma nova forma de pensar em mudança de comportamento. Use o atrito a seu favor: elimine-o quando estiver contra a formação do hábito e fomente-o quando quiser eliminá-lo. Se você não comprar doces quando for ao supermercado, não conseguirá comê-los à noite vendo filmes na TV.
As grandes mudanças da vida são momentos estressantes e cheios de incertezas, mas, também são oportunidades para nos reinventarmos e reestruturarmos nossa jornada. Nossas vidas já compreendem muitos, muitos hábitos. Alguns nós conhecemos, outros não; já passaram do prazo de validade, mas continuam funcionando, muitas vezes fora da vista e da mente. As grandes mudanças são uma oportunidade de depurar e libertar nosso eu habitual para que possamos estabelecer conscientemente alguns hábitos novos e mais produtivos. A descontinuidade do hábito é poderosa. Altera o equilíbrio dos hábitos e a tomada de decisão na nossa vida. A ruptura nos faz pensar. Isso pode tornar a vida mais interessante e nos permitir agir de maneiras que refletem mais nossos valores e interesses. Desta maneira, é bom nos conhecermos bem para avaliarmos os nossos bons e maus hábitos, de forma a conseguirmos reavaliá-los e trabalharmos para extrair o melhor que eles podem nos dar, incluindo estarmos abertos a novas experiências gratificantes.
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