O que o tornará feliz no futuro?

Todos queremos atingir a felicidade. Mas, segundo alguns estudiosos, o ser humano tem dificuldades em estabelecer como será feliz no futuro, tendo em vista uma série de vieses inconscientes que afetam nossa análise. Desta forma, é relevante aumentarmos nosso autoconhecimento para estabelecermos objetivos que realmente nos farão felizes, sob pena de ficarmos frustrados quando chegarmos lá.

Resumidamente, ser feliz é ter prazer. Mas, será apenas isso? Segundo Aristóteles, filósofo grego (384 a.c. a 322 a.c.), a felicidade é o bem supremo pois, ao contrário de outros bens, ela serve apenas a si mesma. Para ele, a virtude estaria no meio termo; exemplo: a ambição seria um vício quando em excesso, mas também seria um vício quando em falta, o indivíduo que não possui ambição alguma não tem motivo para desenvolver-se. O caminho do meio, e assim também pensava Lao Tse (filósofo da Antiga China por volta de 590 a.c.), é aquele que representa as virtudes e que nos tornaria mais felizes.

Para Epicuro, filósofo grego (341 a.c. a 270 a.c.), a vida consistiria na busca constante do prazer e o afastamento da dor. Isso poderia ser entendido como a ênfase desenfreada no prazer, mas, ao mesmo tempo, Epicuro considerava ser a felicidade a capacidade de nos contentarmos com pouco, de nos sentirmos bem com as pequenas coisas, de nos afastarmos dos desejos não naturais e não necessários. A prudência seria a virtude por excelência, pois representaria a capacidade de entender o que podemos ou não fazer, considerando a saúde do corpo e do espírito.

Segundo Espinoza, filósofo de origem judaico-portuguesa, nascido nos Países Baixos (1.632- 1677), a única coisa que garantiria a felicidade seria o conhecimento, pois através dele, conseguiríamos gozar dos prazeres o quanto bastasse para a manutenção da saúde e a acumular dinheiro só o quanto necessário para o sustento de uma vida saudável.

Schopenhauer, filósofo alemão do século XIX, pensava que a felicidade estaria muito menos no que temos ou representamos e muito mais no que realmente somos.

Para Byung Chul Han, filósofo sul coreano de nossos tempos, vivemos numa sociedade do cansaço e, para atingirmos a felicidade, seria necessário termos mais tempo livre em nossas vidas, longe principalmente das redes sociais, de forma a podermos realizar um “auto cultivo”. Segundo ele, a ideologia da sociedade do cansaço, que faz crer que o único responsável pelo “sucesso” é o indivíduo, cria a necessidade de que as pessoas estejam sempre ativas, buscando modos de agir, de empreender, descansando cada vez menos e ficando cada vez mais fissuradas pela busca do sucesso, gerando o adoecimento psicológico e a infelicidade.

Assim como esses autores, poderíamos citar outros tantos, que pensaram e teorizaram a respeito da felicidade, daí verificamos ser esse um tema mais diverso do que parece à primeira vista.

Daniel Gilbert, autor do livro “Felicidade por Acaso”, analisa como equilibrar as expectativas do futuro para alcançar uma vida feliz no presente. Ele é professor de psicologia na Universidade de Harvard e diretor do Laboratório de Emoção e Cognição Social nos Estados Unidos.

Segundo Gilbert, o ser humano é o único animal que pensa no futuro. Pesquisadores contaram os itens que flutuam no fluxo de consciência de uma pessoa média e constataram que 12% dos nossos pensamentos diários giram em torno do porvir.  Mas, a felicidade é uma experiência subjetiva difícil de descrever para nós mesmos e para os outros. Não podemos nos certificar de que duas pessoas que afirmam ser felizes têm a mesma experiência, ou que nossa experiência vigente de felicidade é realmente diferente da nossa experiência anterior de felicidade, ou que sequer estamos tendo uma experiência de felicidade.

O ser humano tem dificuldade de estabelecer o que realmente o fará feliz no futuro. Isto ocorre, segundo o Dr. Gilbert, por uma série de vieses.

Em primeiro lugar, pesquisas sugerem que, quando as pessoas fazem previsões sobre suas reações a eventos futuros, tendem a negligenciar o fato de que seu cérebro executa o truque o preenchimento como parte integral do ato da imaginação. O exemplo fornecido pelo autor é: se eu pedir para você imaginar um prato de espaguete, provavelmente, você imaginará o molho que o envolve, o local em que irá comê-lo, com quem estará desfrutando essa experiência, talvez o vinho que o acompanha e assim por diante, de forma que se amanhã, realmente tiver espaguete no jantar, você poderá se decepcionar caso não tenha todos os atributos imaginados. Ou seja, quando a imaginação pinta um quadro do futuro, muitos detalhes ficam necessariamente faltando, e ela resolve esse problema de ausência preenchendo as lacunas com detalhes que toma emprestados do presente.

Além do truque do preenchimento, nossa mente tende também a fazer o truque de deixar coisas de fora, ou seja, deixa de levar em consideração certas variáveis da realidade, e isto pode levar a um resultado totalmente diferente do “sonhado” para o futuro. E fazemos isso tão bem que não temos consciência do que está acontecendo. Assim, tendemos a aceitar os sonhos para o futuro de forma acrítica e esperar que eles aconteçam com os detalhes – apenas aqueles que – nosso cérebro imaginou.

Em terceiro lugar, temos a tendência a supor que o que sentimos ao imaginar o futuro é o que sentiremos quando chegarmos lá, mas na verdade, o que sentimos ao imaginar o futuro é quase sempre uma resposta ao que está acontecendo no presente, o que não garante a felicidade quando chegarmos mais adiante. O presenteísmo ocorre porque deixamos de reconhecer que nossos “eus” futuros irão se modificar e não necessariamente enxergarão o mundo da maneira que o enxergamos agora.

Se estamos sujeitos a erros quando tentamos imaginar o futuro, então como deveríamos decidir o que fazer? Nossa capacidade de imaginar nossas emoções futuras é falha, mas poderíamos nos valer das experiências de outros para colocarmos as perspectivas na rota certa. Esse é o motivo pelo qual comecei este artigo com um breve apanhado de filósofos de várias épocas analisando a felicidade. Além disso, existem as experiências vividas: cada um de nós está rodeado de gente com muitas vivências que podem nos relatar suas próprias experiências e, ao fazê-lo, nos mostrar quais futuros mais valem a pena desejar. O que ocorre, porém, é que não o fazemos, simplesmente porque nos consideramos diferentes de todos os demais e porque não confiamos que a experiência do outro servirá de base para nosso futuro. Pensamos em nós mesmos como entidades únicas – mentes incomparáveis, diferentes de quaisquer outras – e, portanto, volta e meia rejeitamos lições que a experiência emocional dos outros tem a nos ensinar. estatísticas mostram que não somos tão diferentes assim.

A preocupação da humanidade com a felicidade remonta de muito tempo e, uma vez que dependemos menos de fatos fortuitos do ambiente, ela vem se acentuando. Gilbert cita que, em 1738, um polímata holandês chamado Daniel Bernoulli sugeriu que a sabedoria de qualquer decisão pode ser calculada multiplicando-se a probabilidade de que a decisão nos dará o que queremos pela utilidade de conseguir o que queremos, sendo esta a sensação de bem-estar ou prazer que conseguiríamos.  A primeira parte da descrição de Bernoulli é relativamente simples de obter: qual a probabilidade de eu ser promovido neste emprego; qual a probabilidade de eu me casar com meu atual namorado? e assim por diante. O problema é que não temos meios de avaliar facilmente como nos sentiremos quando conseguirmos o que queremos. Sem uma fórmula para prever a utilidade, tendemos a fazer o que apenas nossa espécie faz: imaginar. Nosso cérebro é dotado de uma estrutura singular graças à qual temos a possibilidade de nos transportar mentalmente para circunstâncias futuras e, em seguida, perguntarmos a nós mesmos qual é a sensação de estar lá. Porém, como comentado anteriormente, essa capacidade de imaginarmos circunstâncias futuras não é perfeita: nós as preenchemos com detalhes que de fato não acontecerão e deixamos de fora detalhes que acontecerão, além disso, achamos impossível ignorar o que estamos sentindo agora e impossível reconhecer como pensaremos nas coisas que acontecem depois. Não existe uma fórmula simples para a felicidade. Mas, se nosso cérebro não nos permite avançar com passo firme rumo ao futuro, pelo menos nos permite entender o que nos faz tropeçar.

Ao estudar as ideias dos grandes filósofos, fica claro que querer obter o máximo de prazer a qualquer preço não é um caminho para a felicidade. Esta também tem componentes éticos e necessidade de ampliar a visão para considerar a sociedade como um todo. O importante é pensarmos a respeito e determinarmos um ponto de chegada que nos permita sermos felizes também no caminho que nos levará até ele.

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