Você consegue pensar como um cientista de foguetes?
Todos nós enfrentamos no nosso dia a dia problemas complexos e desconhecidos. A resolução desses obstáculos pressupõe a utilização de pensamento crítico e de criatividade, duas habilidades muito aclamadas mas difíceis de encontrar, motivo pelo qual são tão procuradas pelo mercado de trabalho.
O pensamento crítico é a opinião fora da manada, que implica em não seguir cegamente líderes de ocasião. Quando você concordar totalmente e sempre com alguma liderança, comece a se sentir desconfortável e verifique se não está faltando análise isenta em suas atitudes. É necessário avaliar as questões objetivamente, filtrando preconceitos e permitindo diversas perspectivas. Uma grande vantagem do pensamento crítico é que ele pode melhorar a criatividade, o que implica em dar soluções inesperadas e eficientes para as questões que requeiram alguma resposta.
Dado esse contexto, como entender melhor os requisitos para tais habilidades? Como se exercitar e beneficiar delas? Uma abordagem bem peculiar foi a exposta no livro “Pense como um Cientista de Foguetes”, de Ozan Varol. O autor é um turco que se mudou para os Estados Unidos para se formar em astrofísica pela Universidade de Cornell e, então, trabalhou na equipe operacional do projeto Mars Exploration Rovers da NASA em 2003. Além disso, estudou direito e é professor da Faculdade de Direito Lewis & Clark. Seus artigos aparecem em periódicos como Wall Street jornal, Newsweek, BBC, Time, CNN, Washington Post, Slate e Foreign Policy.
Varol nos relata que pensar como um cientista de foguetes é enxergar o mundo através de uma lente diferente. Os cientistas de foguetes imaginam o inimaginável e resolvem o que a princípio não tem solução, transformam derrotas em triunfos e restrições em vantagens, além de enxergar reveses como quebra-cabeças que têm solução em vez de bloqueios intransponíveis. Eles não são movidos pela convicção cega, mas pelo autoquestionamento; seus objetivos não são resultados de curto prazo, mas descobertas a longo prazo. Eles sabem que as regras não são fixas, que o padrão pode ser alterado e que um novo caminho pode ser traçado.
Vamos examinar neste artigo, algumas características dos cientistas de foguetes, relatadas pelo referido autor, que podem ser utilizadas para o desenvolvimento de nosso pensamento crítico e criativo, retirando as lições tanto positivas como negativas do mundo da exploração espacial e trazendo-as para o nosso cotidiano.
Um dos enfoques necessários a quem deseja ter a efetividade de pensamento de um cientista de foguetes é abraçar a incerteza. Todos nós fomos programados para ter medo do incerto, pois nossos antepassados tinham receio do desconhecido para não virar comida de tigres-dentes-de-sabre e aqueles com essa característica viveram o suficiente para transmitir seus genes até nós. O problema do mundo moderno, segundo Bertrand Russel, é que “os burros têm certezas, ao passo que os inteligentes têm muitas dúvidas”. Se explorarmos apenas caminhos já trilhados e se evitarmos jogos que não sabemos jogar, permaneceremos no mesmo lugar. A incerteza faz parte do processo e é, na verdade, essencial ao progresso.
Outro pensamento para quem deseja avançar na obtenção de sucesso em qualquer projeto são as ideias em princípios básicos. O crédito para esse conceito se deve a Aristóteles, que o definiu como “a base pela qual uma coisa é conhecida”. O filósofo e cientista francês René Descartes o descreveu como um questionamento sistemático de tudo o que for possível questionar até que tenhamos apenas verdades inquestionáveis. Os princípios básicos nos levam às soluções mais simples, sem confundir simplicidade com facilidade. É como diz aquela frase muito citada: “Se eu tivesse mais tempo, teria escrito uma carta menor.” A virtude de efetuar cortes nos leva de volta ao começo para encontrar o original.
A próxima atitude desejada a quem deseja pensar como um cientista de foguetes é a realização de experimentos mentais. Há registros de experimentos mentais pelo menos desde a Grécia antiga. Por mais incrível que pareça, podemos fazer descobertas apenas pensando: apenas você e sua imaginação. Einstein disse: “O puro pensamento pode entender a realidade.” Os pensamentos podem refutar um argumento, mostrar por que uma coisa vai ou não vai funcionar, e iluminar o caminho à frente – tudo sem um experimento físico. Para se aprimorar em experimentos mentais devemos focar em recuperar nossa curiosidade infantil de forma a estimular a originalidade. Além disso, e ao contrário do que a vida moderna parece exigir de nós, devemos usufruir do ócio como forma de cristalizar novos conhecimentos fomentando nossa habilidade em resolver problemas de forma criativa.
Uma ideia chave para a realização de experimentos mentais segundo Varol é a obtenção de repertório. A vida não é compartimentalizada em silos. Não aprendemos muito comparando coisas similares, mas o senso comum nos leva a comparar laranjas com laranjas e não com maçãs, no entanto, é mais fácil pensar fora da caixa quando exercitamos nossa criatividade com várias caixas. A criatividade combinatória obriga a nos expor a um grande leque de ideias, enxergar o similar em coisas diferentes e combinar maçãs e laranjas para criar uma fruta nova. Quanto mais amplo for seu repertório de conhecimentos aleatórios, mais interessante será o resultado se suas criações. Por isso, pegue uma revista ou livro de um assunto sobre o qual você não sabe nada. Participe de uma conferência de outra indústria. Cerque-se de pessoas de profissões, históricos e interesses diferentes. Enfim, permita-se conhecer coisas novas para ter ideias criativas.
Além disso tudo é importante ter pensamento divergente, que é uma maneira de gerar ideias diferentes com mente aberta e de forma livre. No pensamento divergente não focamos nas restrições, nas possibilidades ou no orçamento. O objetivo é criar um conjunto de opções – boas e ruins – sem julgá-las prematuramente, limitá-las ou escolher entre elas. Para ativá-lo, precisamos desligar o pensador racional que existe em nós – o pensamento convergente. Somente depois de ter ideias malucas podemos adaptá-las à realidade utilizando o pensamento convergente: passando do idealismo ao pragmatismo.
As descobertas, ao contrário da sabedoria popular, não começam com uma resposta inteligente. Elas começam com uma pergunta inteligente. Da próxima vez que se sentir tentado a resolver um problema, tente descobrir primeiro qual é o problema. Pergunte-se: “Estou fazendo a pergunta correta? Se eu trocasse de ponto de vista, como o problema mudaria? Como posso formular a pergunta em termos de estratégia em vez de táticas? Enfim, chegar à verdadeira questão para a qual procuramos uma solução.
Outro ponto a considerar é o autoconhecimento que permite reconhecer nossos preconceitos de forma a poder analisar as opções de forma isenta e sem viés. Antes de anunciar uma hipótese, pergunte-se: “Quais são minhas preconcepções?”. Verifique, ainda, se quer que determinada hipótese seja a escolhida e, se sim, tenha cuidado, pois quando gostamos de algo ou alguém, tendemos a ignorar suas falhas. Para se certificar de que não nos apaixonaremos por uma única hipótese, é melhor criar várias e o ideal é que as hipóteses criadas entrem em conflito umas com as outras.
Somos programados para ter medo do fracasso. Mas, no mundo moderno a tendência natural de evitar o fracasso é uma receita para a derrota. Por trás de cada foguete não lançado, cada quadro não pintado, cada projeto não iniciado, cada livro não escrito e cada canção não cantada está o intimidador medo do fracasso. No outro extremo, temos uma espécie de endeusamento do fracasso, defendido pelo Vale do Silício, que também não é desejável, pois, segundo Varol a ideia de falhar rápido é enganosa uma vez que o foco deveria estar no aprendizado com os erros e não no erro em si. O objetivo não deve ser falhar rápido, mas aprender rápido. Não aprendemos a andar na primeira tentativa; nós caímos várias vezes e, com cada queda, nossos corpos aprendiam o que fazer e o que não fazer: ao aprender a não cair, aprendemos a andar. O fracasso é o portal da descoberta, da inovação e do sucesso a longo prazo. No entanto, a maioria das organizações sofre de amnésia coletiva em relação aos seus fracassos. Os erros permanecem ocultos porque os funcionários têm muito medo de compartilhá-los, uma vez que somente o sucesso é incentivado e, normalmente, o erro é punido. É necessário implementar segurança psicológica para que as pessoas não tenham receio de errar e tenham coragem de relatar os erros, com os respectivos aprendizados.
Pensar como um cientista de foguetes implica em ser ao mesmo tempo racional e criativo, focado e abrangente, reconhecer todo o histórico das conquistas anteriores e tratar cada projeto como o primeiro de forma a obter soluções peculiares e simples. Tudo isso é importante também na experiência em qualquer empreendimento e pode ser aplicado para melhoria de nossa capacidade de resolução de problemas e visão de mundo em geral.
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