Você já se arrependeu de algo na vida?
Existem muitas pessoas que dizem não se arrepender de nada na vida. O que, a princípio, parece uma atitude positiva não se apresenta desta forma em uma análise mais aprofundada. Vejamos por quê: será que essas pessoas nunca cometeram erro ou será que não reconhecem seus enganos? Ou, se reconhecem as falhas cometidas, não têm vontade de aprender com o ocorrido para, em situações semelhantes, agir de forma a promover outro resultado que não aquele obtido da primeira vez?
O arrependimento pode parecer tóxico e não construtivo e é por isso que o rejeitamos, pois imaginamos que o processo pode não nos trazer nenhum benefício. Mas, arrepender-se, assim como errar, é humano e nos ajuda a prevenir situações semelhantes no futuro. Não se arrepender de nada na vida pode inibir o aprendizado, entravar o crescimento e limitar o nosso potencial. Isso é o que nos conta Daniel Pink em seu livro “O Poder de se Arrepender – Como Avaliar o Passado para Seguir Adiante”, o qual recomendo. Pink é autor de alguns best sellers do New York Times (vale lembrar-se de “Motivação 3.0”). Suas obras ganharam diversos prêmios e foram traduzidas para 39 idiomas. Segundo Pink, o propósito do arrependimento é nos fazer sentir piores hoje para nos ajudar a agir melhor amanhã.
Por outro lado, temos que tomar cuidado ao olhar somente o lado positivo desse sentimento porque ele é perigoso quando vira uma ideia fixa negativa: pode levar à ruminação, que degrada gravemente o bem-estar, e à regurgitação de erros do passado, inibindo nossa capacidade de progredir. Arrependimento em excesso está ligado a uma série de problemas de saúde mental – como depressão e ansiedade. Por isso, é preciso encará-lo como um impulso para agir diferente da próxima vez e não como um tormento; enquadrá-lo como uma oportunidade e não uma ameaça. Quando usado da forma adequada, o arrependimento oferece três amplos benefícios:
- Ele pode aguçar nossas aptidões para a tomada de decisões. O arrependimento pode enfatizar os erros que cometemos ao chegar a uma decisão, de modo que, se uma situação semelhante surgir no futuro, não os faremos de novo.
- Pode elevar o nosso desempenho em diversas tarefas. Um fracasso que suscite arrependimento, ao estimular a reflexão e revisão da estratégia utilizada, pode melhorar o desempenho futuro em atividades semelhantes.
- Pode fortalecer nosso senso de significado e conectividade, direcionando nossa vida para seu propósito.
Em seu livro, Pink descreve sua investigação sobre o assunto através do estudo “American Regret Project”, no qual foi realizada pesquisa com 4.489 adultos representativos da população americana em 2.021. Nele, 82% dos entrevistados dizem se arrepender de algo, desejando ter feito coisas de forma diferente. Os motivos mais comuns apresentados pelos participantes foram encaixados nas seguintes categorias: (1) família, (2) parceiros, (3) educação, (4) carreira, (5) finanças, (6) saúde, (7) amigos, além de outros. Ao avaliar a pesquisa, Pink concluiu que essa classificação era superficial e se perguntou se poderia analisar esse sentimento de maneira mais profunda. Verificando as palavras e descrições dos casos, chegou à divisão em quadro categorias:
- Arrependimentos de base. Relacionam-se à nossa falha ao não sermos responsáveis, conscientes ou prudentes. É quando fazemos uma escolha mais fácil no presente, que pode comprometer nossa vida à longo prazo. Quando, por exemplo, nós negligenciamos a escola e a deixamos antes do que deveríamos. Soam como: “Se, pelo menos, eu tivesse feito o trabalho”.
- Arrependimentos por ousadia. Ocorre quando não aproveitamos uma oportunidade de crescimento, agindo somente dentro da nossa zona de conforto. Com o tempo é muito mais provável que nos arrependamos das chances que não aproveitamos do que das que aproveitamos. Exemplos deste tipo são: não começar um novo negócio ou não perseguir um interesse romântico. Soam como: “Se, ao menos, eu tivesse assumido o risco”.
- Arrependimento moral. A maioria de nós quer ser uma boa pessoa, mas, muitas vezes enfrentamos escolhas que nos tentam a tomar o caminho menos correto. Trata-se de fazer uma escolha que nossa consciência nos diz ser errada. Com o tempo, essas decisões morais dúbias podem nos atormentar. Exemplos de arrependimentos morais são fazer bulling ou trair o cônjuge. Soam como: “Se, ao menos, eu tivesse feito a coisa certa”.
- Arrependimentos de conexão. Ocorrem quando negligenciamos as pessoas que amamos e esses relacionamentos são desfeitos como resultado de uma ruptura ou de uma separação. Nossas ações nos dão uma direção; mas, outras pessoas dão a nossas vidas um propósito. Esses arrependimentos humanos se originam em nossa falha em não reconhecer nem honrar isso. Soam como: “Se, ao menos, eu tivesse privilegiado o contato”.
Como já foi comentado, arrependimentos podem nos ajudar a tomar melhores decisões, ter um desempenho mais satisfatório e desenvolver um senso mais profundo de significado e conexão. Mas, isso só ocorrerá se ressignificarmos aqueles existentes ou se anteciparmos os futuros. Se você se arrepender de uma ação feita, pode tentar desfazê-la pedindo desculpas, fazendo as pazes, procurando formas de reparar os danos. Pode, ainda, ver o lado positivo, descobrindo como a situação poderia ser pior, transformando o arrependimento em alívio. Pode também transformar o arrependimento de hoje em combustível para o progresso amanhã: seguindo um processo direto de três etapas, podemos revelar o arrependimento, reenquadrar o modo como o vemos e a nós mesmos e extrair uma lição da experiência para refazer nossas decisões subsequentes:
- Autorrevelação: reviva e alivie. Negar nossos arrependimentos onera nossas mentes e nossos corpos. Ao compartilhá-lo, reduzimos parte de seu fardo, o que pode abrir caminho para perceber melhor o seu sentido.
- Autocompaixão: normalize e neutralize. Em vez de diminuir a nós mesmos ou de nos repreender em momentos de frustação ou fracasso, o melhor é estender a nós mesmos a cordialidade e compreensão que ofereceríamos a outra pessoa. A autocompaixão começa por substituir um julgamento rigoroso pela simples gentileza. Ela não ignora nossas lambanças nem negligência nossas fraquezas. Ela simplesmente reconhece que “ser imperfeito, cometer erros e encontrar dificuldades na vida é parte da experiência humana.
- Auto distanciamento: analise e trace estratégias. Pessoas que se auto distanciam focam menos em contar suas experiências e mais em reconstruí-las de formas que ofereçam entendimento e encerramento.
Além de tudo isso, antecipar arrependimentos pode ajudar. Analisar, em dada situação, se a decisão que vou tomar hoje pode gerar algum tipo de arrependimento no futuro com o qual eu não serei capaz de lidar. Dar um tempo e o distanciar-se para poder analisar a situação mais objetivamente. Apenas deve-se tomar cuidado para que esse processo não seja uma procrastinação que evite a tomada de decisão e a assunção dos riscos inerentes.
Resumindo, devemos extrair as lições das experiências que temos na vida, sejam elas positivas ou negativas. Naturalmente, uma atitude da qual nos arrependemos não acarretou consequências satisfatórias e é justamente por isso que devemos pensar no que fizemos de errado para que isso não volte a acontecer em situação semelhante.
Viver é acertar, errar e crescer com as experiências e, portanto, não ter receio de enfrentar e tirar as lições de nossos arrependimentos.
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