Você tem dado prioridade ao ócio como forma de fomentar sua criatividade?

PANORAMA GERAL

Ao contrário do que deveria ser, o mundo pós-moderno nos obriga a alocar um tempo demasiado grande nas atividades laborais. Hoje é muito comum observarmos pessoas que começam a trabalhar logo cedinho e que não têm horário para parar. Posso falar com conhecimento de causa, pois eu mesma fui alguém que costumava trabalhar doze ou até quatorze horas por dia. Isso parece incongruente na medida em que as operações estão cada vez mais automatizadas, o que deveria dar um “refresco” aos trabalhadores para poderem viver em equilíbrio, ou seja, vida pessoal e profissional em harmonia.

Também é um fato que cada vez mais organizações exigem de seus colaboradores a criatividade como uma competência das mais relevantes, pois esta é a base da inovação, requisito necessário à sobrevivência das empresas em geral.

Essas duas constatações, porém, não estão em convergência. Quanto maior e mais “burocrática” for sua carga de trabalho, menos espaço para a potencialização da sua criatividade.

O ÓCIO CRIATIVO

Neste contexto, a grande referência vem do livro “O Ócio Criativo” do sociólogo do trabalho italiano Domenico de Masi, o qual recomendo e no qual é baseado este artigo. Considero o livro ainda muito atual, apesar de sua primeira edição ser publicada em 1.995, pois as circunstâncias descritas pelo autor quanto ao aumento da carga de trabalho e necessidade de maior criatividade, somente foram potencializadas com o passar dos anos.

Segundo De Masi, as atividades humanas são divididas em três elementos: trabalho, estudo e jogo:

  1. Trabalho: é a execução das funções necessárias ao cumprimento de uma tarefa.
  2. Estudo: é a obtenção de conhecimento através do aprendizado constante, utilizando vários recursos disponíveis, como o uso da internet, por exemplo.
  3. Jogo: é o espaço lúdico de lazer, brincadeira e convivência que deveria estar presente em qualquer atividade que se faça. É a forma de evitar a mecanização do trabalho, dando-lhe “alma”.

Para De Masi, estamos caminhando em direção a uma sociedade fundada não mais no trabalho, mas no tempo vago, pois as pessoas têm uma maior perspectiva de vida e se aposentam proporcionalmente mais cedo. Além disso, os seres humanos fazem menos coisas com as mãos e mais coisas com o cérebro, ao contrário do que acontecia até agora, por milhões de anos. Como já citado anteriormente, dentre as atividades que realizamos com o cérebro, as mais apreciadas e valorizadas pelo mercado de trabalho são aquelas com maior grau de criatividade, porque mesmo as intelectuais, quando são repetitivas, podem ser delegadas às máquinas. A principal característica da ação criativa é que ela praticamente não se distingue do jogo e do aprendizado, sendo que quando trabalho, estudo e jogo coincidem, estamos diante do “ócio criativo”.

CARACTERÍSTICA DO TRABALHO NO MUNDO PÓS-INDUSTRIAL

Existe um hábito, que se consolidou ao longo dos anos por parte dos executivos de “colarinho branco”, de permanecer no escritório muito mais tempo do que aquele estritamente necessário, mesmo quando não são remunerados pelas horas extras.

Esses trabalhadores intelectuais, em vez de reduzirem progressivamente o próprio horário de expediente ou de, ao menos, largarem o serviço pontualmente, permanecem nas empresas gratuitamente, todos os dias, muitas horas a mais do que as previstas no contrato de trabalho. Depois de um certo período, esse tempo a mais se torna uma exigência não contratual por parte do empregador e, o que é pior, torna-se também uma dependência psicológica do empregado que, com isso, sacrifica o convívio com a família e o lazer.

Por outro lado, o que mais se solicita de trabalhadores intelectuais são ideias e, conforme defende De Masi, quanto menos se sai da empresa, quanto mais se permanece trancafiado lá dentro, menos se recebe estímulos criativos, gerando-se, portanto, menos ideias: eis o círculo vicioso!

COMO FOMENTAR CRIATIVIDADE

Para De Masi, se diminuíssem a carga de trabalho de seus funcionários, as empresas seriam mais criativas, mais produtivas e reduziriam as despesas. Os trabalhadores teriam mais tempo disponível para a vida pessoal, revitalizariam seus relacionamentos com a família, com o bairro, com a cultura e alimentariam a própria criatividade.

Uma parte de nosso tempo livre deveria ser dedicada a nós mesmos, ao cuidado com nosso corpo e nossa mente. Uma outra parte deveria ser dedicada à família e aos amigos. Deveríamos dedicar uma terceira parte à coletividade, contribuindo para sua organização civil e política. Cada cidadão deveria dosar estas três partes em medidas adequadas, de acordo com sua vocação pessoal e sua situação concreta.

CONCLUSÃO

Num país de tantas desigualdades como o Brasil, parece utopia falarmos em ócio criativo, mas parte da solução começa com o reconhecimento de que as atividades ditas intelectuais requerem uma nova abordagem, contemplando menos horas de trabalho. Hoje, exige-se mais tempo dos trabalhadores ativos e dispensa-se muitos funcionários, gerando-se mais trabalhadores desempregados ou subempregados.

Tudo poderia começar com os “trabalhadores intelectuais”, que deveriam reorganizar as próprias vidas, reconhecendo a falácia que os faz pensar serem eternos e adiar continuamente para a velhice o momento de aproveitar a família e então achar um hobby que lhes deem prazer. É necessário começar a cultivar a própria vida interior, no lugar de somente a carreira que um dia terá fim.

Devemos estar atentos, porém, com a idolatria do ócio, pois, segundo o próprio De Masi, existe um ócio dissipador, alienante, que faz com que nos sintamos vazios, inúteis, nos faz afundar no tédio e nos subestimar. O ócio criativo é aquele no qual a mente é muito ativa, que faz com que nos sintamos livres, fecundos, felizes e com crescimento.

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