Você consegue usar as lições das “startups” em sua carreira?
PANORAMA GERAL
Vivemos em um mundo altamente mutável em curtos espaços de tempo. Esse aspecto transformador se diferencia de épocas anteriores pela velocidade com que ocorre. Nossa era já foi considerada VUCA e agora é dita BANI. Em linhas gerais, VUCA é a representação da volatilidade e mudança recorrente do mundo. Já BANI é a representação da “era do caos”, excesso de informações e o comportamento de todas as pessoas em relação às mudanças atuais do mundo. Enquanto o VUCA enfatiza a volatilidade, a incerteza, a complexidade e a ambiguidade, o BANI destaca a fragilidade, a ansiedade, a não linearidade e a incompreensibilidade do ambiente.
Além disso, vivemos na chamada era da modernidade líquida. Segundo o site Mundo Educação em seu artigo Modernidade líquida: o que é, implicações, Bauman – Mundo Educação (uol.com.br) , o conceito de modernidade líquida, desenvolvido pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman, diz respeito a uma nova época em que as relações sociais, econômicas e de produção são frágeis, fugazes e maleáveis, como os líquidos.
Dado todo esse contexto, será que nossa carreira profissional e até nossa vida pessoal também são influenciadas pelas características de nossa atualidade? Eu diria que a resposta é sim: os atributos da modernidade interferem em todos os aspectos de nosso modo de viver.
O que proponho neste artigo é verificarmos as competências peculiares das startups, símbolos de nossa era, e avaliarmos se também são aplicáveis ao nosso desenvolvimento profissional e, por que não, pessoal.
Para tanto, me baseei no livro “Apaixone-se pelo problema, não pela solução” de Ure Levine, cofundador do Waze, o principal aplicativo de transporte e navegação do mundo, com mais de 700 milhões de usuários e adquirido pelo Google em 2013 por 1,15 bilhão de dólares. Levine se empenha nesse livro em disseminar o pensamento empreendedor.
TER FOCO NO PROBLEMA
Uma das grandes lições do livro mencionado, que inclusive justifica seu título, é a importância de nos apaixonarmos pelo problema e não pela solução. Quantas vezes não agimos de forma a defender tanto a “nossa” solução, sem avaliar outras possibilidades, talvez mais viáveis e efetivas, como resposta ao desafio apresentado.
Quem se apaixona pela solução e não pelo problema carece de isenção para avaliar alternativas e não procura por outras opções que podem ser mais vantajosas.
Segundo Levine, canalizar um sentimento de frustração para a definição de um problema é o segredo da criação de todas as suas startups. O problema desencadeia tudo e, se ele for realmente significativo e houver sucesso em resolvê-lo, o retorno pode ser bom.
O mesmo enfoque deve ser aplicado a nossas respostas no trabalho. O que enfrentamos diariamente são problemas, que precisam ser resolvidos. Ter uma mente empreendedora vai nos ajudar tanto no enfoque dos problemas, como nas soluções que apresentamos para resolvê-los.
Um dos segredos a ser utilizado é conversar com muitos envolvidos para entender a percepção dos outros sobre o problema. Defina-o bem; interesse-se realmente por solucioná-lo. E, só depois parta para a solução. Se ao final a solução der certo, você vai gerar valor ao público impactado, que pode ser sua equipe de trabalho, seus clientes ou sua família. Quanto mais a definição do problema for simples, objetiva e acessível, melhor. Para Levine, o problema que o Waze tentava resolver era como os motoristas poderiam evitar congestionamentos; simples assim.
CONSIDERAR A IMPORTÂNCIA DO ERRO
Quem tem medo do fracasso, já falhou, porque não vai tentar. Está muito preso à sua zona de conforto e isso vale para indivíduos, organizações e até países.
Fracasso é um acontecimento, não uma pessoa, portanto não tenha medo de fracassar, encare isso como uma experiência e não como um rótulo sobre você.
Devemos estar preparados para, assim como as startups, cometer erros com rapidez para aumentar as chances de sermos bem-sucedidos num prazo menor. Levine defende que quanto mais rápido se fracassar, mais experimentos se poderá realizar dentro do orçamento e das mesmas restrições de tempo.
Naturalmente, quando falarmos de empresas, devemos avaliar em que cultura elas estão inseridas: aquelas que só punem os erros ou aquelas que enxergam o erro como um passo fundamental para chegar aos seus objetivos. Isso vale também para nossas carreiras: o que chamamos de experiência profissional também se refere às lições aprendidas com os erros.
TER VISÃO E ARGUMENTOS SOBRE SOLUÇÕES INOVADORAS
Às vezes, implementar uma solução inovadora requer clareza e argumentação para convencimento dos envolvidos. Os disruptores ouvem o mesmo feedback reiteradas vezes: “Isso nunca vai funcionar”.
No mundo empresarial das startups, temos muitos exemplos de como uma solução disruptiva pode causar a rejeição imediata, vou apontar os dois mais famosos, relatados por Levine em seu livro:
- Em 2000 uma novata iniciante chamada Netflix abordou a gigante da indústria de vídeo chamada Blockbuster, na época avaliada em 6 bilhões de dólares. Reed Hastings, CEO da Netflix, fez uma oferta a John Antioco, chefe da Blockbuster: comprar a empresa por 50 milhões de dólares. Antioco disse não e declarou com segurança: “A Netflix é um negócio de nicho muito pequeno. Tudo que eles podem fazer, faremos ainda melhor.” A Netflix entrou na bolsa em 2002; em 2010 a Blockbuster declarou falência. Na década seguinte, a Netflix não apenas era sinônimo de streaming de vídeo, mas também virou um estúdio de cinema completo, com valor de mercado de 250 bilhões de dólares em 2021, cerca de quarenta vezes mais que a Blockbuster em seu auge.
- Steve Sasson, engenheiro da Kodak de 24 anos, criou o conceito da câmera digital em 1973. Quando o apresentou para a equipe de gestão da empresa, o CEO, Walter Fallon disse para não contar essa novidade a ninguém, evidentemente com receio de que ela ameaçaria o que considerou seu “core business” na indústria de papel e química. Para ele, uma câmera digital seria irrelevante para o negócio principal da empresa. Concorrentes mais ágeis não esperaram e a chegada dos smartphones somente aprofundou a concorrência. A kodak entrou com pedido de falência em 2012.
Tudo isso para dizer que soluções inovadoras exigem visão de um lado e boa capacidade de argumentação do outro. Não basta ter uma solução criativa, é necessário saber “vendê-la” aos envolvidos e, naturalmente, encontrar gente com visão para “comprá-la”.
CONSIDERAR A RESISTÊNCIA A MUDANÇAS
Para dar soluções eficientes aos problemas, deve-se sempre entender o cliente que será impactado, seja ele interno ou externo. Leve em consideração que as pessoas têm medo de mudanças e, na maior parte das vezes, não gostarão de se adaptar a um novo status quo.
No caso das startups, Levine nos aconselha a entender o usuário, começando pela internalização da ideia de que você é apenas uma amostra de um, e os outros usuários não são como você.
Como premissa leve em consideração que ninguém lê muitas instruções: nem manuais, nem resumos de aplicativos, nem mensagens. Quanto mais intuitiva for a solução, mais fácil será implementá-la.
A solução deve agregar valor de tal forma que as pessoas devem acreditar e “se aventurar” na sua utilização.
FECHAMENTO
Num mundo de novos requisitos e muitas peculiaridades, o olhar inovador nas soluções para os problemas que lidamos rotineiramente pode nos ajudar a tratar nossa performance como um empreendedor trata sua startup.
Ter foco no problema para obter a melhor solução, procurar soluções inovadoras utilizando boa argumentação ao defendê-las e considerar que as pessoas (sejam clientes, equipes ou famílias) têm, naturalmente, aversão às mudanças, são alguns aprendizados que as startups, melhor representante desse nosso mundo moderno, nos ensinam.
Quer avaliar como as características das startups podem agregar suas competências como forma para fomentar sua carreira?
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