Você considera o ser humano essencialmente bom ou egoísta?

PANORAMA GERAL

Existe uma discussão travada não é de hoje sobre qual é a natureza do ser humano. De um lado, estão os que acreditam, como Hobbes, que os indivíduos são naturalmente maus e egoístas e que somente a sociedade civil poderia nos salvar de nossos instintos mais baixos. Já para Rousseau, todos somos naturalmente bons e a civilização seria nossa ruína; segundo ele, antes dos reis e dos burocratas, tudo era melhor, sendo que o homem nasce livre – é a civilização que lhe coloca correntes.

Essa discussão vai além da filosofia pois, dependendo de que lado do espectro nos colocamos, escolheremos uma das opções práticas: punições duras ou melhores serviços sociais, reformatórios ou escolas de arte, administração de baixo para cima ou equipes empoderadas, patriarcas de antigamente ou pais que cuidam dos filhos de forma mais liberal.

É desse assunto que trata o Livro “Humanidade – Uma história otimista do homem” de Rutger Bregman (historiador holandês, autor de vários best sellers), o qual faz uma reflexão profunda das características essenciais do ser humano, apresentando casos e estudos científicos para embasar sua posição. O autor nos oferece uma nova perspectiva sobre a história da humanidade com o objetivo de provar que estamos “programados” para a bondade, voltados para a cooperação em vez da competição e mais inclinados a confiar em vez de desconfiar uns dos outros.

A ORIGEM DA NATUREZA HUMANA

Bregman nos relata sobre como experiências do cientista russo Dmitri Belayaev levaram-no à conclusão que durante dezenas de milhares de anos, os humanos mais amigáveis tiveram mais filhos. Que a evolução de nossa espécie se baseia na sobrevivência do mais amistoso.

Nós nascemos para aprender, nos relacionar e interagir. Estamos constantemente despejando emoções e somos feitos para nos relacionarmos com as pessoas ao nosso redor. Esse é o nosso superpoder, pois pessoas sociáveis, segundo estudos, não apenas são mais agradáveis para se ter contato como são mais inteligentes.

Nossos antepassados distantes sabiam da importância do coletivo e raramente idolatravam indivíduos. Caçadores-coletores do mundo todo acreditavam que tudo está conectado. Viam-se como algo muito maior, vinculado a todos os outros animais, às plantas e ao planeta Terra.

Desta forma, Bregman conclui que somos naturalmente amistosos e que alterações nesse comportamento humano passaram a acorrer após a “invenção” das propriedades privadas advindas com a fixação dos indivíduos à terra, criação de estados, reis, exércitos, lutas e escravidões. A maioria dos homens passou não mais a agir segundo sua natureza de cooperação e bondade, mas com novas atitudes advindas com as novas organizações sociais e econômicas.

O PAPEL DAS NOTÍCIAS

Segundo Bregman, existe um mito persistente de que, pela própria natureza, os humanos são egoístas, agressivos e muito suscetíveis ao pânico. É o que o biólogo holandês Frans de Waal gosta de chamar de “teoria do verniz”: a ideia de que a civilização não passa de uma fina camada de verniz que pode descascar ante qualquer provocação. Bregman pensa justamente o oposto. Para ele, é quando surge uma crise – quando caem bombas ou há uma enchente – que os humanos dão o melhor de si.

O Centro de Pesquisas de Desastres da Universidade de Delaware constatou que, em quase setecentos estudos de campo desde 1963, jamais houve uma situação de caos total quando da incidência de um desastre; nunca se estabeleceu o “cada um por si”. Ao contrário, a criminalidade – assassinatos, roubos, estupros – costuma cair. As pessoas não entram em choque, elas se mantêm calmas e resolvem agir. “Seja qual for a extensão dos saques”, destaca um pesquisador de desastres, “é sempre insignificante em comparação ao altruísmo que leva a doações espontâneas em massa e à divisão de bens e serviços. Ou seja, catástrofes recuperam o melhor das pessoas.

Para Bregman, se nós acreditarmos que a maioria das pessoas não é confiável, será assim que trataremos uns aos outros, para prejuízo de todos, pois, em última análise, iremos obter aquilo que esperamos.

Porém, os seres humanos são mais suscetíveis a notícias sobre desgraças e tristezas e isso nos dá a impressão de que a natureza humana é egoista. A primeira razão é aquela que os psicólogos chamam de viés de negatividade: estamos mais sintonizados com o ruim que com o bom. A segunda é o fato de que também carregamos o fardo de um viés de disponibilidade: se conseguimos nos lembrar facilmente de exemplos de alguma coisa, logo supomos que essa coisa é relativamente comum. O fato de sermos bombardeados todos os dias por histórias horríveis de desastres aéreos, sequestradores de crianças e decapitações – que tendem a se alojar em nossa memória – distorce nossa visão de mundo. Como observa o estatístico libanês Nassim Nicholas Taleb: “Não somos suficientemente racionais para estarmos expostos à imprensa”. Disso se conclui que devemos ter cuidado em assimilar as notícias e generalizá-las de forma a encarar a parte pelo todo.

COMO O PODER CORROMPE

O professor Dacher Keltner, especialista em psicologia do poder,  descobriu que os indivíduos que ascendem ao poder são os mais empáticos e amigáveis. Porém, uma vez no poder, o líder tende a ver os outros sob uma luz negativa. Quem é mais poderoso está mais sujeito a considerar que a maioria é preguiçosa e inconfiável. Que os outros precisam ser supervisionados, monitorados, censurados e orientados a fazer as coisas. Como o poder provoca um sentimento de superioridade, o líder vai achar que esse monitoramento deve ser confiado a ele próprio.

Para formar a tempestade perfeita, não ter poder surte o efeito oposto. Pesquisas no campo da psicologia mostram que aqueles que se sentem impotentes também se sentem muito menos autoconfiantes. Hesitam em expressar opinião. Em grupo se fazem parecer inferiores, subestimando a própria inteligência. Tais sentimentos são convenientes para os que estão no poder, pois a insegurança reduz a possibilidade de reação. Pessoas sem autoconfiança se calam. Quem é tratado como idiota começa a se sentir idiota, levando os governantes a deduzirem que as massas são obtusas demais para pensarem por si, e por isso caberia a eles assumirem o comando – por sua visão e sabedoria.

Seria devido a essa congruência de fatores que ocorreram as piores ações de seres humanos contra outros seres humanos, como por exemplo a ascensão do nazismo e o consequente extermínio de judeus.

CONCLUSÃO

Ao ler o livro “Humanidade” fiquei com a ideia de que intrinsicamente o ser humano é bom, mas, a partir do momento histórico em que começamos a nos assentar em um só lugar e amealhar propriedade privada, combinado com a escassez e as hierarquias estabelecidas, nosso instinto deixou de ser inofensivo. E quando líderes começaram a formar exércitos para impor vontades, não houve mais como impedir os efeitos corruptores do poder.

Nesse novo mundo de guerreiros e agricultores, de cidades e de Estados, ultrapassamos a linha tênue que dividia a amizade da xenofobia. Em busca de pertencimento, logo nos tornamos propensos a repelir forasteiros. Começamos a ter dificuldade para dizer “não” a nossos líderes – mesmo quando nos faziam marchar para o lado catastrófico e desumano da história.

Até na visão mais otimista da natureza humana verificamos, portanto, que o mundo em que vivemos tornou-se refém de uma série de fatores que faz a ação dos homens ser cruel, egoísta e preconceituosa.

Vale a reflexão de como podemos atuar para termos uma realidade mais amena e palatável e um futuro mais com mais esperança, sem sermos ingênuos, mas obtendo o melhor das pessoas. Como resgatar o comportamento amistoso, empático e naturalmente “bom” da humanidade? Será isso possível? Sinceramente, não sei, mas acredito que a outra forma de atuação tem-se mostrado autodestrutiva, como qualquer manchete de jornal pode comprovar diariamente.

Quer avaliar como semear seu lado naturalmente amistoso e ter sucesso desta forma?

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