Você tem a coragem de não agradar?
PANORANA GERAL
Sempre acreditei que agradar outras pessoas fosse uma forma de humanidade, de consciência da vida social e até de humildade. Por isso me chamou a atenção o título do livro “A Coragem de Não Agradar”, best seller escrito por Ichiro Kishimi e Fumitake Koga. Os autores são inspirados nas ideias de Alfred Adler – um dos expoentes da psicologia ao lado de Sigmund Freud e Carl Jung. A obra apresenta o debate entre um jovem e um filósofo que, ao longo de cinco noites, discutem temas como autoestima, raiva, autoaceitação e complexo de inferioridade. Aos poucos, fica claro que libertar-se das expectativas alheias e das dúvidas que nos paralisam e encontrar a coragem para mudar estaria ao alcance de todos.
O SENTIDO DE NOSSAS EXPERIÊNCIAS
Segundo Adler, nenhuma experiência é, em si, a causa de nosso sucesso ou fracasso. Nós não sofremos do choque de nossos traumas, mas os transformamos em algo que atende aos nossos propósitos. Não somos determinados por nossas experiências, mas sim pelo sentido que damos a elas.
Somos nós que determinamos nossa vida de acordo com o sentido que damos às experiências passadas. Sua vida não é algo que alguém dá a você, mas algo que você próprio escolhe, e é você quem decide como viver.
As pessoas não são impelidas por causas do passado, mas avançam para cumprir metas que elas próprias fixam. Quem é infeliz o é porque em algum estágio da vida optou por ser assim. Não foi porque nasceu em circunstâncias infelizes ou foi parar numa situação infeliz. Segundo Adler, isso aconteceu porque essa pessoa considerou “ser infeliz” uma boa coisa para ela naquele contexto.
Para a psicologia adleriana, as pessoas são capazes de mudar a qualquer momento, não importa o ambiente em que estejam. Alguém só se sente incapaz de mudar porque está tomando a decisão de não mudar, por achar mais prático deixar as coisas como estão. Quando tentamos mudar de estilo de vida, colocamos nossa coragem à prova. A mudança gera ansiedade e a inércia causa desapontamento. É tudo uma questão de escolha.
OS RELACIONAMENTOS INTERPESSOAIS
Adler dizia que “todos os problemas têm base nos relacionamentos interpessoais”. A base de nossos problemas está na comparação com os outros e na forma de nos relacionarmos.
A comparação em si não é o transtorno, pois a busca da superioridade e o sentimento de inferioridade não são doenças, mas estimulantes ao empenho e ao crescimento normais. O problema passa a existir quando, por um lado, atingimos o complexo de inferioridade o qual surge quando o indivíduo usa o sentimento de inferioridade como uma desculpa para não evoluir. Exemplos: minha instrução é deficitária, por isso não vou alcançar o sucesso; não tenho boa aparência, por isso não consigo me casar.
Por outro lado, a pessoa que sente precisar ostentar sua superioridade o tempo todo tem um complexo de superioridade, o que também não é bom. Na verdade, ela teme que sem a ostentação ninguém a aceitaria do jeito que é. Quem tem autoconfiança não sente necessidade de se vangloriar.
Para Adler, os relacionamentos interpessoais não devem ser encarados como uma competição, pois se assim for, os outros serão sempre considerados inimigos. Para sermos felizes é necessário, segundo essa teoria, nos tornamos capazes de contribuir ativamente para a felicidade do outro.
A psicologia adleriana considera que quando conseguimos sentir que as pessoas são nossas companheiras e não competidoras, nossa maneira de ver o mundo muda por completo: ele passa a ser um lugar seguro e agradável e nossos problemas de relacionamento diminuem consideravelmente.
AS TAREFAS DE CADA UM
Quando desejamos muito sermos reconhecidos, acabamos vivendo para satisfazer as expectativas das outras pessoas. Para Adler, ao fazer isso, jogamos fora quem realmente somos e passamos a viver a vida alheia.
Segundo a psicologia adleriana, todos os problemas de relacionamento são causados pela nossa intromissão nas tarefas das outras pessoas ou pela intromissão alheia nas nossas tarefas. Cabe ao responsável pela tarefa arcar com as decisões sobre ela e também com as consequências de sua decisão.
Às vezes o problema é identificar de quem é a tarefa e existe uma forma simples de saber, que é responder à questão “quem vai acabar recebendo o resultado final causado pela escolha feita?”
O que outra pessoa pensa de nós – se gosta ou não de nós – é tarefa dela, não nossa. Isso é separação de tarefas.
Um exemplo comum é quem diz: “Não consigo fazer bem meu trabalho porque meu chefe não gosta de mim.” Para os estudiosos adlerianos, a pessoa que diz esse tipo de coisa está usando a existência do chefe como desculpa para o trabalho malfeito.
Segundo Adler, o que devemos fazer sempre é enfrentar nossas próprias tarefas em nossas próprias vidas sem mentir. Se alguém vive para satisfazer as expectativas alheias e confia a vida aos outros, está mentindo para si e estendendo a mentira para incluir as pessoas à sua volta.
Dado todo esse pensamento, o preço da liberdade nos relacionamentos interpessoais é desagradar algumas pessoas. Quando nos comportamos de forma a agradar todo mundo, passamos a viver sem liberdade. Devemos nos lembrar que pode haver uma pessoa que não simpatize conosco, mas isso não é tarefa nossa. Antes de nos preocuparmos com o que os outros pensam de nós, devemos agir com nosso próprio ser; isso é viver em liberdade.
Quando se está preso ao desejo de reconhecimento alheio, as cartas do relacionamento estão nas mãos do outro. Temos que escolher entre dar as cartas da nossa vida para outra pessoa ou segurá-las nós mesmos.
Todos os seres humanos podem ser felizes; isto não significa que todos os seres humanos são felizes. A pessoa precisa se sentir útil a alguém para ser feliz, ou seja, precisa ter a sensação de contribuição. Se um indivíduo realmente tem a sensação de contribuição, deixa de buscar o reconhecimento alheio, pois já terá a consciência real de que é útil a alguém e não precisará fazer qualquer esforço para obter o reconhecimento.
CONCLUSÃO
A psicologia adleriana é, no mínimo, intrigante. Com certeza, coloca o ser humano num papel de maior protagonismo, pois não aceita que os traumas e condições passadas influenciem quem somos no presente. Para Adler, é uma questão de qual o significado queremos dar a esses fatores em nossas vidas.
Ainda segundo Adler, somos sempre capazes de mudar, tudo é uma questão de “custo x benefício”, pois algumas vezes preferimos a inércia do status quo a enfrentar o medo da transformação.
A coragem de não agradar vem do reconhecimento da separação de tarefas nos relacionamentos interpessoais. Quando passamos a separar nossas tarefas das tarefas dos demais, verificamos que o que o outro pensa de nós é função dele e não nossa.
Não é fácil pensar assim e, sinceramente, não sei se concordo com tudo, mas é muito interessante ver uma forma diferente de análise do ser humano do que dita a psicologia tradicional.
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